Boris aterrissa no Brasil pela primeira vez

Marcado para o dia 30/11, o trio japonês fará seu debut no país

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German Martinez

9/9/20255 min read

A cena japonesa sempre foi um tanto quanto intrigante, sendo uma das mais prolificas e fanáticas. Sempre abrangendo estilos dos mais distintos, se formos pensar lá atrás na história do rock e afins, temos uma variedade absurda de boas bandas. Ali por volta dos anos 80, a explosão do Heavy Metal tradicional do Loudness com talvez seu maior clássico, Thunder in The East, ou os pioneiros do metal satânico do Sabbat.

A década de 80 também foi fundamental pro Punk Rock/ Hardcore, onde surgiram bandas como: The Stalin, G.I.S.M., Gauze e como não citar os doidões do S.O.B ( Sabotage Organized Barbaria), uma das bandas favoritas de João Gordo.

A loucura garageira do Guitar Wolf, ou a psicodelia Pop - Mutantes do Pizzicato Five. Enquanto que nos anos 90, Nagoya deu a luz aos brutais Unholy Grave. Os monstros sagrados do Acid Mothers Temple, capitaneados Kawabata Makoto, se destacando com suas experimentações e uma discografia gigantesca. Tínhamos o D- Beat avassalador do Disclose, vindos de Köchi, ou mais tarde o Darge com sua mistura de punk e crossover. E o Doom Metal do Eternal Elysium.

Misturado a tudo isso no fim dos anos 90, o HC/Punk e diferentes vertentes explodiram no underground, por culpa de bandas intensas como Vivisick, Fuck On The Beach, Nomares, N.E.K (Ninos en Kombate). Nesta altura do campeonato temos o punk rock tresloucado das garotas do Otoboke Beaver e o grindcore aterrorizante do Sete Star Sept. A clássica Huck Finn, uma das casas que mais deram espaço aos eventos undergrounds, segue viva até hoje, localizada em Nagoya.

Mas foi no começo dos anos 90, que um grupo de jovens que frequentavam a mesma de escola de Arte e que curtiam um "barulho" nos arredores de Tokio, foram ouvir os norte-americanos do Melvins, e foi justamente no disco Bullhead, de 1991, que havia a primeira faixa, a própria "Boris", e daí eles começaram a fazer um som torto e experimental já em 1992, e adotaram o nome faixa como nome pra banda.

Foi apenas em 1996, que a banda lançou o primeiro disco, Absolutego, um soco na boca do estômago pelas sua sonoridade, já que a faixa título tinha mais de uma hora de duração. Flood, se destacou no início do milênio e apontava os rumos que a banda queria seguir, sem sequer uma letra em inglês, e usando o idioma nativo nas faixas, o Boris andava na contramão do esperado pra época. Se logo nos primeiros discos, eles chamaram atenção pelo experimentalismo, foi em Heavy Rocks de 2002, mostrou um potencial além do imaginado, eles sabiam realmente o que estavam fazendo, se tornando um dos registros mais obrigatórios da discografia da banda.

Em 2003 Akuma No Uta, chega às prateleiras como uma referência á capa de Bryter Later, do músico folk Nick Drake, falecido em 1974 em decorrência de overdose de remédios, sendo considerado um suicídio, na capa Takeshi aparece da mesma forma que Nick, com fontes e cores idênticas, só que com uma guitarra/baixo de dois braços.

Em 2006, Pink foi lançado e causou um impacto profundo no cenário, sendo um álbum que caminhava pra outros rumos. O single Pink, é uma prova do som que eles queriam tirar, pesado, louco e sem rastros de um rock clichê instrumental. Canções como Farewell, Afterburner, e Just Abandoned Myself, são algumas das mais impactantes do álbum. É por causa de Pink que a banda vem ao Brasil, em 2026 o album fará 20 anos do seu lançamento, e foi uma pedra fundamental na trajetória do grupo. Graças ao som torto, pesado e experimental, foi chamando cada vez mais atenção de crítica e público.

Quem se recorda do clipe de estética "doida" de Statement, single que foi um dos destaques do álbum Smile de 2008.

Como sua formação é de 2 guitarras e devido ao peso que são suas performances ao vivo, a Orange Amplifiers resolveu patrocinar a banda, dando um gás ainda maior na "sujeira" das guitarras estridentes da banda. A versatilidade de Wata & Takeshi, com sua enormidade de pedais, que fazem o som soar mais doido.

A banda sempre se preocupou em ter uma regularidade de lançamentos, fazendo assim discos praticamente a cada ano e sempre mantendo sua formação duradoura desde o princípio, apenas tendo mudado seu primeiro baterista, e gravando seus materiais de forma analógica, trazendo então ainda mais veracidade pro seu som. A banda também participou de faixas para animes como Ninja Slayer From Animations

Em 2010 Ian Astbury, se aproximou do grupo e gerou uma grande amizade, até que ele foi pra Tókio gravar vocais em faixas pra um EP que sairia no mesmo ano, intitulado de BXI, com 3 faixas inéditas e uma versão pra lá de experimental de Rain, da banda de Ian. Juntos, eles fizeram performances na Austrália e EUA.

Pra falar de um amor gigantesco que a banda tem, eles participaram do tributo japonês aos irlandeses do My Bloody Valentine, com uma versão belíssima de Sometimes. O Boris sempre foi uma banda de dividir projetos, e desde seu princípio eles já faziam, e dessas parcerias foram surgindo coisas ao lado do Barebones, Rocky and The Sweden, e um dos projetos mais interessantes foi quando trabalharam com Masami Akita aka Merzbow, com qual dividiram inúmeros discos, se tornando uma das parcerias mais longínquas do grupo.

NO, foi lançado na pandemia, mais precisamente em 2021, e é um dos melhores discos do trio, muitos dizem que a essência Punk/HC desemboca nesse álbum, tanto que no álbum, o grupo executa uma versão de Fundamental Error, do grupo de hardcore Gudon, de Hiroshima.

Tendo fãs do naipe de Colin H. van Eeckhout, dos belgas do Amenra ou parceiros do Uniform, a banda divulgou o álbum nas suas redes sociais, tentando manter viva a conexão com seus fãs ao redor do mundo em plena COVID 19.Zerkalo e Loveless, duas das faixas do disco, conversam com filmes "Cult", hábitos naturais no desenvolvimento de faixas da banda, já que o assunto cinema sempre os atraiu e assumem que nomes como Jim Jarmusch e Andrei Tarkovsky, foram influências pra canções do grupo.

O som do Boris ele quebra todos os esteriótipos possíveis, pois já passearam pelo instrumental, drone, punk/hc, sludge, shoegaze, noise ou coisa que se pareça, se tornando assim uma banda sempre em mutação.

O show único, está agendado pro dia 30/11, domingo, no Fabrique Club, localizado na Rua Barra Funda, 1071, Barra Funda

A produção do show é da Abraxas, Powerline & Maraty, dirigida por André Barcinski e Leandro Carbonato.