Boris reivindica seu lugar de importância na música torta mundial
O trio japonês pisou pela primeira vez no país e foi recebido com casa cheia
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Texto German Martinez - Fotos Raíssa Corrêa
12/4/20256 min read


Se pensássemos que 2005, ou seja, quando o Boris lançou Pink, pudéssemos ver a banda em alguma oportunidade seria algo diferente, vê-los após mais de 30 anos de banda e com uma turnê de 20 anos do álbum citado, já seria uma premissa boa.
Ancorado por produtoras como Abraxas, Powerline e Maraty, essa trinca que vem fazendo um trabalho memorável, há anos, talvez muitos não saibam, mas esta batalha de trazer bandas avessas á estéticas prontas do rock não é pra muitos, e é feito por eles há no mínimo uma década, então pense que uma casa cheia, não é uma obra da noite pro dia, sendo que produção de forma independente no país, só se sustenta por ser fomentada grão por grão, primeiramente por profissionais que amam aquilo que fazem e fazem com dedicação, e assim foi feito.
Já com ingressos esgotados o show puxou os suecos do Siena Root, da Suécia, que cairia por Brasil numa mini turnê que passaria por Rio de janeiro e 2 datas em São Paulo, inclusive uma dessas ocorre na terça feira, dia 02/12, no La Iglesia, em Pinheiros, ao lado do powertrio do Hammerhead Blues. Pois bem, enquanto a casa não abria, os camelôs já vendiam suas versões "paralelas" de camisetas da banda principal da noite. Elas que variavam entre uma preta em comemoração a turnê, ou rosa dando ênfase ao clássico álbum, e outras até do Heavy Rocks, na cor laranja. A fila já fazia curva na rua detrás do Fabrique Club, e sim, era um verdadeiro "sold out".






Entretanto a casa não abria, e se ouvia capaz era a passagem de som, de alguma banda, já com cara de atraso, a casa finalmente abriu e todo mundo foi procurar espaço no Fabrique. As cortinas ainda cerradas, e o Siena Root todavia passava o som, fato que acarretou um atraso de no mínimo 1 hora, que desagradou muitos fãs, inclusive da própria banda. O público que se via, eram caras novas, uma juventude que quiçá não tinha nem nascido quando o Pink foi lançado, algo de errado? Não, mas foi de se espantar uma fração de juventude ir ao encontro do Boris, que não é nada convencional em sua estrutura musical.
Eis que lá pelas 21: 00, os suecos subiram ao palco, com um som mal equalizado, tirando o brilho do vocal potente de Zubaida Solid, que já tem um tom alto de voz, e precisaria se esgoelar pra fazer bonito, batera estridente num volume altíssimo aliado ao vocal ensurdecedor, trouxe um clima esquisito pra quem queria ver, não sendo suficiente o órgão e vocal sumiu por 2x dos PA's, enquanto a vocalista pedia incessantemente pra que tivesse mais retorno do seu instrumento e da sua voz. O set foi curto, e pelo menos não deixaram que ficasse maçante a performance, mediante uma sucessão de problemas técnicos. Do nosso ponto de vista, a banda é altamente competente e gostamos dela, mas foram prejudicados por essa infelicidade contínua, fica a expectativa pra que na terça tudo ocorra bem (assim como ocorreu, leia em breve aqui a resenha sobre terça-feira), pra que vejamos realmente a qualidade do grupo sueco no palco.






Estávamos receosos pelo som, pelos problemas anteriores, mas eis que surge Takeshi Ohtani do lado direito do público e Wata do lado contrário, até que Atsuo Mizuno, completou o time, e foram ovacionados pelo público, e começam com uma expertise de poucas bandas, meteram o instrumental pra ninguém notar que estavam alinhando tudo na parte técnica, e foi abrir com Blackout, que se comprovou que a técnica desta vez se fes presente, tudo realmente bem ajustado, e em seus devidos lugares. Bastou esse "raio de energia" que os fãs tresloucados pulavam, a banda logo replicou a sinergia que necessitava com Pink e Woman on The Screen, e lá vinha o Pink, sendo pincelado com uma tela virgem de uma artista plástico.
O grande questionamento da noite era se a banda levaria suas paredes de Orange pra abrilhantar ainda mais sua performance, eis que aconteceu, Takeshi acabou usando um Ampeg pro seu baixo, aliado á um Orange, mas Wata deu destaque aos "laranjinhas envenenados". Totalmente focado e preciso, Atsuo combinava tempos irregulares com batidas frenéticas de um hardcore, como uma locomotiva sem freio junto do retumbante dedilhado de Takeshi, nas primeiras canções,






Com esse começo Hardcore/Grunge/Garage foram deliberadamente soltando rojões como Nothing Special, Ibitsu.
O timbre de guitarra de Wata é de se apreciar com olhos bem atentos, a técnica que ela impõe é algo inenarrável, enquanto Takeshi destrói com suas camadas de baixo distorcido e linhas de guitarra destemiveis. Atsuo viaja em seu drum kit, e atua como um baterista de uma banda de Hard Rock de arena, sempre com seus punhos pra cima após suas viradas precisas. O conjunto soa com o frescor de outrora, mas não nos podemos esquecer que a banda segue lançando discos impecáveis como o NO, que na época nós os entrevistamos, no auge do lançamento do disco em plena pandemia.




Como um corpo caindo para um precipício, eles foram pra faixas como A Bao A Qu, que levou tudo pra uma atmosfera lisérgica e psicodélica. Seguida The Evilone Which Sobs, que essa sim, invocou o Diabo, quando as luzes trouxeram um ambiente de trevas pro local. A esse ponto o espírito já havia desencarnado pra outro lugar mediante tanta barulheira. Entre fumaça, luz vermelha e ruídos, synths e tudo mais eles dispararam Akuma No Uta, um distorcido petardo sem precedentes.
Wata falou ao microfone sobre a turnê de Pink e agradeceu o público presente. Já era tarde da noite, Just Abandoned Myself pôs fogo em tudo de novo, sendo uma das maiores canções do set, promovendo uma catarse quase comparada aos riffs iniciais de Pink.




Se despediram com Farewell, que faz jus a uma despedida, a estética shoegaze, noise, psych, o Boris flutua por todas, e faz disso um verdadeiro alicerce da sua música "não convencional". O grupo quebra todas as estéticas possíveis desde seu primeiro lançamento, e usa desse artifício pra se renovar ou se dar ao luxo de criar uma própria personalidade sonora, sem sequer soar como uma cópia de nada, muitos menos da banda que lhes gerou o nome.




E muitos sentiram falta de Rainbow que havia sido tocada na Argentina, e não foi desta vez que a banda faria por aqui, com gritos de Feedbacker que era intercalada com Flood pro bis, eles optaram pela segunda, numa nova viagem ao fundo do poço do subconsciente do ser humano, numa versão visceral de mais de 15 minutos de canção. Caótico e brilhante, como deveria ser e foi, transformando aquela noite como se fosse Tokio há anos atrás.

