Cachorro Grande comemora um quarto de século, com casa cheia em SP

O quarteto porto-alegrense fez uma das suas datas especiais no Carioca Club, na última sexta 08/08.

NOTÍCIAS

Texto German Martinez - Fotos Raíssa Corrêa

8/13/20256 min read

Quem diria que nós, jornalistas, fãs, entusiastas do estilo ou de bandas como a Cachorro Grande, sobreviveríamos 25 anos, pra poder contar essa história desse grupo seminal pro nosso cenário nacional.

Quando o grupo despontou ali no início dos anos 2000, com suas aparições na TV Cultura, principalmente nos programas Musikaos, capitaneado por Gastão Moreira e com a base sólida de Clemente Nascimento, ou no Alto Falante, do mestre Terence Machado, a Cachorro Grande saiu do nicho Rio Grande do Sul, e alçou vôos mais ousados vindo pra São Paulo em algumas ocasiões, e também experimentando o gosto dos festivais que pintavam de cabo a rabo do nosso território brasileiro.

A estréia com o álbum homônimo que já trazia toda a energia e influências dos 60/70 era escancarada e alegrou muito o público e mídia, que apostou neles como gratas novidades. Com o lançamento do segundo disco encartado em todo o país pela revista Outracoisa de Lobão, a Cachorro Grande, passou a chacoalhar ainda mais o movimento rock n roll.

E foram grandes festivais, como o Claro Que É Rock, em 2005, ou o Campari Rock, de 2006, onde a banda fazia jus ao seu espaço. Posteriormente dividindo uma turnê com os irmãos Gallagher pelo Brasil, a banda não parava de lançar discos e videoclipes, que alavancavam seus shows pelo país.

Depois realizaram o sonho de qualquer garoto fissurado em rock, quando abriram para os The Rolling Stones no Beira-Rio, até que o fim estava próximo e lançaram o último suspiro Electromod.

De vez em quando se reuniam pra shows esporádicos, até que 2024 voltaram a falar do retorno aos palcos, pra comemorar esses 25 anos de estrada. Após um show beneficente no Cine Jóia, em prol da população que sofreu com os alagamentos no Rio Grande do Sul, a banda começou a idéia de girar o país, e São Paulo entrou na rota, numa sexta feira fria, de fazer tremer o queixo.

Como a noite era uma grande comemoração, eles convidaram uma das maiores bandas em ascensão do Brasil, os Hurricanes. Conterrâneos do estado, mas vindos de Santa Maria (RS), a banda também fez o mesmo caminho que seus colegas e vieram tentar a vida de músico (e banda) na capital paulista. Já com 2 discos lançados, e agora se apresentando como quinteto com a adição de Jimmy Pappon (Bombay Groovy) nos teclados, o grupo celebra sua bem sucedida participação do gigante festival Best Of Blues, realizado em junho deste ano e sua atual aparição no Dharma Sessions, apresentado por Gastão Moreira.

A banda ao vivo é uma grande concepção de suas influências dos anos 60/70, mas fazer isso sem cair na repetição ou na cópia deslavada que é uma tarefa difícil, mas os Hurricanes, conseguem e com louvor. Passando riffs pesados e marcantes, a baterias suingadas, ou vocal exuberante de Rodrigo, faz deles um excelente liquidificador musical, com influências de The Black Crowes (que inclusive a banda abriu o show deles em 2023), Led Zeppelin, Faces, Free, Ten Years After, entre outros.

É difícil destacar este ou aquele momento, já que a banda joga em prol da coletividade e funciona muito bem ao vivo. Músicas do primeiro disco soam ainda mais imponentes ao vivo, com a presença dos timbres de guitarra de Leo Mayer, ou do vocal de Rodrigo Cezimbra, a cozinha é um dos pontos altos do grupo, já que Henrique Cezarino, no baixo e Guilherme Moraes, na bateria, garantem o peso do show.

No repertório canções como The Bird's Gone, esta, uma das nossas favoritas da banda. Flowers & Come To The River, fizeram o público ainda tímido vibrar,

Com um atraso de cerca de 20 minutos, que estava marcado pras 22:00, as cortinas se abriram e lá estavam Pedro Pelotas, nos teclados, Eduardo Barreto no baixo, Marcelo Gross nas guitarras, Gabriel "Boizinho" Azambuja na bateria e Beto Bruno nos vocais.

Com a casa já cheia, coisa que parecia que não ia acontecer já que estava tudo tão calmo, até pouco tempo atrás, o Carioca foi ficando tomado. Pra começar sem dó nem piedade, a banda disparou Você Não Sabe O Que perdeu, e foi alinhando o som até a chegada da frenética Agora Eu Tô Bem Louco, e a simpática Desentoa.

Com latas de cerveja, de whisky, e pinga, a Cachorro Grande, não escondia que era uma celebração "alcoólica" aos 25 anos da banda. Até o mais tímido na platéia, batia o pézinho e cantava as canções que sabia. E olha que o espólio da Cachorro Grande, todas as canções são pra cantar junto, e por mais que você não as conheça completamente, em algum momento, você saberia cantarolar. Fato importante pra uma banda que nunca abandonou o idioma nativo pra soar de uma outra forma.

Bom Brasileiro, Beto reverenciou São Paulo, em busca da tão concorrida "cannabis". O que viria adiante levantaria o astral com a selvagem e esporrenta Hey Amigo. Entre um gole e outro de "etílicos", a banda ia despejando seus hits atemporais. Neste momento faixas como Que Loucura, arrancaram os gritos de empolgação, já que o quarteto voltava ao seu clássico primeiro disco, não faltou As Próximas Horas Serão Muito Boas. Uma faixa inusitada foi Novo Super Herói, do álbum Pista Livre, lançado em 2005, pela Deck Disc.

Título da capa da nossa revista com os próprios Cachorros, A Alegria Voltou, teve seu lugar de destaque. Caminhando pelo Pista Livre, Super Amigo, roubou a cena com os teclados de Pedro Pelotas, fazendo a cama pro vocal de Beto. Velha Amiga, também do Pista Livre, contou um pouco da rotina da banda na estrada da vida.

Um dos sucessos de 2007, nos remeteu á MTV, do disco Todos os Tempos, Roda Gigante, fez alusão ás alucinações da banda com uso de entorpecentes. Teve tempo pra Beto reverenciar os Stone Roses, Happy Mondays e Primal Scream. Logo depois, Beto dizia sobre a única canção que eles tinham feito no início da carreira e cansavam de tocar, e tocaram Debaixo do Chapéu, com citação ao Blonde on Blonde do próprio Bob Dylan.

Gross assumiu os vocais pra ligeira, O Que Você Tem, com direito a presença feminina nos coros na platéia. O próprio emendou o hit do Acústico MTV Bandas Gaúchas, a malemolência de Dia Perfeito. Voltamos no tempo, pra magnífica Lili, com todo mundo cantando e viajando nos seus versos acompanhados pelas notas de teclado.

Todo mundo na expectativa que viria a grande "Jam", de Vai T Q Dá, e tudo ficou caótico ao extremo, foi tudo do jeito como era no início da década, sem controle, com Gabriel tocando o terror do início ao fim. Todos banhados em suor depois dessa, era hora da balada Sinceramente, que seria o momento dos isqueiros se fosse num estádio, mas houveram alguns celulares pra celebrar tal momento, e digamos que seja um dos melhores refrões da música nacional, uma canção que ganha corpo e intensidade ao seu final.

O hit Sexperienced foi cantado com participação de Duda Calvin do Tequila Baby, e levou o público á loucura. Antes de Lunático, Beto mandou um recado para o ex-presidente desta nação, "Sem Anistia", e assim se esgoleou em Lunático. Quando todos acreditavam que já era o fim, eles chamaram Duda, e os Hurricanes pra embalarem o hino dos jovens ingleses do The Who, numa versão apoteótica de My Generation.

E acabou, sendo uma das melhores noites de 2025, sem sombra de dúvidas