Converge promove catarse no Brasil

O quarteto norte americano fez show único no país e ocorreu no último domingo na capital paulista

RESENHA

Texto German Martinez - Fotos Tiago Rossi

11/12/20246 min read

Foram 4 anos de espera até tal dia chegar, pra contextualizar ou até mesmo quem não estava informado sobre, em 2019 a Powerline anunciou a vinda dos norte americanos do Converge e do Clutch também, na ocasião o quarteto de Massachusetts viria com o Sick of It all que aqui se juntaria ao Test e Institution, como obra do destino, a pandemia veio e arrasou todo e qualquer plano pra 2020, e uma parte dos anos posteriores.

Em 2023, novamente foi anunciada desta vez para abril de 2024, mas Kurt Ballou (guitarrista), ficou doente e a turnê foi novamente postergada para novembro. O que pra muitos parecia que seria algo que não aconteceria, pra outros levavam a ferro e fogo a presença em "terra brasilis". Conforme a agenda foi sendo tomada por México, Costa Rica e desembocando na "hermana" Argentina, a ansiedade batia mais alto, e se via aquele tal sonho se concretizar.

Com shows relativamente curtos, a banda vinha descendo a América do Sul, sem deixar pedra sobre pedra, os relatos, os vídeos e as fotos comprovavam que cada show era apoteótico. Mas São Paulo é sempre uma caixa de surpresa pra qualquer banda, o sangue corre nos olhos e a entrega normalmente nunca decepciona.

Localizada no bairro da Liberdade, na capital paulista, cenário de inúmeros shows e cada vez mais carimbando a agenda cultural na cidade, o Cine Jóia teve a função de recepcionar o quarteto de Salem. A banda que encararia abrir o show era o Mee, um quarteto super competente, uma das melhores bandas dos últimos anos de São Paulo.

Em seu repertório pudemos ver o peso e categoria nas guitarras de Artur Sardinha, aliado a uma voz sombria e impecável de Jê Landini, com vocais angustiantes. Além da cozinha extremamente potente do quarteto.

Destaque pra faixas como: Electric Blanket & Chicken, Bargain, Depression, Koro Syndrome. Algumas fazem parte do primeiro e excelente álbum do grupo.

A banda já carrega uma legião de fãs que se faziam presentes no recinto fez com a abertura fosse de bom gosto. Nem mesmo o problema com um dos amplificadores desmotivou o quarteto a seguir em frente e terminar seu set.

Como era de esperar o local foi enchendo cada vez mais, mas justamente por ter um formato diferente de antigo cinema, o público acabou se dispersando por alguns cantos pra evitar os mosh pits que obviamente se formariam.Por volta das 21:00, alguns dos integrantes subiram no palco e deram seus últimos ajustes. Alguns logo vibraram mas era só depois de meia hora que viriam oficialmente ao palco.

O que se via nas pessoas espalhadas pelo ambiente eram: integrantes de bandas, jornalistas, novos e velhos fãs, devidamente trajados com respectivas camisetas da banda querida. E essa sensação ela é um tanto perturbadora, nós vivemos num país que até hoje sofre com um "delay" absurdo de bandas de expressão que jamais pisaram por aqui e o Converge é uma delas, criados no começo dos anos 90, revolucionando toda a estética sonora do Hardcore, juntando camadas de muitos outros estilos, os caracterizou exatamente por conta dessa mescla de influências. E assim como o Neurosis, Amenra, e tantos outros, a banda faria tal estreia no palco do Cine Jóia, com mínimo de atraso de 30 anos.

A expectativa era gigantesca com cada um com quem falávamos, eis que no horário cravado, respeitando o público diferente de outras bandas, eles foram empunhar seus instrumentos, e logo de cara um chute na cara com Eagles become vultures, rápida e voraz. Com a urgência de um grito de socorro foram pra Dark Horse, a brutalidade de um coice de cavalo em qualquer ser humano. Nessa hora a "bagunça (boa)" já estava generalizada. Só se viam corpos voando e rodas girando, como carrosséis.

A quase cadenciada Under Duress do finíssimo The Dusk in Us, com backing vocals agoniantes de Nate e Kurt. Em Heartless, Ben Koller dá o peso ritmado pros momentos desconexos da guitarra de Kurt. Com Jacob ajoelhado, com vocal totalmente desesperado veio a martelada de Axe to fall. Foi o primeiro ensaio pra galera do fundo "banguear".

Respira, sorri, enxuga o rosto, e vem You Fail Me, aquele vocal dilacerante fazendo várias camadas pros berros aterrorizantes dos backing vocals. Se o público suava, a banda então nem se fala, a frase "sangue, suor e lágrimas", nunca se fez tão necessária. Os stage dives foram devidamente feitos e com um tremendo respeito sem incomodar a banda, e muito menos roubar o microfone de Jacob, em que ele próprio cedia aos mais insanos fãs na área do gargarejo.

Sempre de um lado pro outro, as caras e bocas de Jacob Bannon, faz dele um dos maiores destaques da performance, junto dos alicerces indestrutíveis das guitarras Kurt Ballou. E foi só a intro de All we love we leave behind, que os gritos vieram a tona, com a batida cavalar de Ben, o ritmo de Kurt. Fez desse momento talvez o ápice até então. Como um avião supersônico, Ben Koller, atravessava a barreira do som, até desembocar com as frases de Kurt.

Quem sobreviveu a tal canção, se viu diante de Predatory Glow, pesada e saturada, dando tempo apenas pra um gole de água. Metade do show já tinha ido, e no mínimo foi pro HD pessoal da mente dos presentes. Porque o que todos queriam, era muito mais.

Era difícil não olhar pro lado e ver sorrisos, e era o que todos buscavam naquele momento, um lugar de afago, de encontro com sua banda favorita, ou coisa do tipo. A quase "grunge" Hell to pay, brinca com efeitos até que tudo vire pó. Caixa de bateria soando alta e firme nos alto falantes, pra toda brutalidade de Bitter and then some.

Eye of the quarrel, traz a intro de Kurt e Nate catapultando frases de baixo pra dar e vender na face de quem quisesse ver e ouvir. A excelência de Reap what you sow, trouxe mais e mais rodas insanas, onde era nítido que ninguém queria sair delas. Nate agradeceu tamanha noite que estavam vivendo e o público literalmente devolveu com mais energia ainda o agradecimento.

Sem pausa, nem alarde, veio o ritmo desenfreado de Cutter, que na nossa opinião foi das mais insanas da noite, com todos gritando até o fim. Já Worms will feed/Rats will feast veio pra acalmar os ânimos totalmente aflorados, mas o que se ouviam eram gritos de todos os cantos da platéia, fazendo Jacob e banda abrirem sorrisos largos mediante tal empolgação.

I can tell you about pain, provocou ainda mais a chama do público ensandecido subindo, cantando, berrando, dando vôos sem piedade do alto palco do Cine Jóia. Ouviam-se gritos de The Saddest Day, mas o que veio foi Concubine, monstruosa como deve ser.

O fim ou o apocalipse estava próximo, saíram do palco. Até que a saideira era nada mais nada menos que The Saddest Day, a impactante faixa de abertura do segundo disco da banda, cheia de mudanças de ritmo, a faixa foi ovacionada do começo ao fim, até que numa das partes Jê Landini do Mee assumiu o vocal e se jogou. E acabou lindo como tinha que ser e se esperava, pouco mais de 1 hora e 10 minutos, 16 canções de um rolo compressor chamado Converge.

Faltam palavras pra descrever o que foi essa performance do Converge, foi uma longa e árdua espera, que culminou numa das melhores noites que já foram vistas por estas terras.