Cro Mags: "baseado" em fatos reais

Quarteto liderado por Harley Flanagan ferveu a Burning House, na última quarta feira (08/10)

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Fotos Raíssa Corrêa - Texto German Martinez

10/11/20256 min read

Num clima tão áspero pra uma noite de primavera, no mês de outubro, o que nos recepcionava era uma chuva torrencial aliada á uma baixa temperatura, que já havia caído desde o dia anterior, o que demostrava que o paulistano deveria sair com seu guarda chuva de casa. Colada na estação da Água Branca, a Burning House, vem chamando atenção no cenário underground, pois vem recebendo inúmeras bandas tanto nacionais como estrangeiras.

Com a produção da Caveira Velha Produções e da Xaninho Discos, a atração seria a lenda de Harley Flanagan, o culpado por trás do Cro Mags, e uma trupe que completava o time de músicos mais novos (com exceção de Pete), já que o mesmo tem 58 anos de idade. Mesmo sendo numa quarta feira, a data não foi o problema pro público, sendo que em São Paulo, os shows são ininterruptos, quase que de domingo a domingo, pra todos os tipos de gostos.

Até alguns dias antes, não sabíamos qual seria a banda que tocaria ao lado dos norte-americanos, mas felizmente foi escolhido o Paura, pra fazer as honras da casa. Sendo uma das bandas mais notáveis do cenário paulistano e digna de estar ali, fato que o próprio Fábio Prandini (vocalista), citou sobre onde sua visão alcançava via pessoas de bandas, e dizer o quão forte é o cenário HC/Punk em São Paulo.

O Paura é uma das maiores instituições do nosso hardcore brasileiro, a banda surgida no ano de 1995, que possui uma longevidade ímpar, tendo excursionado ao velho continente em algumas oportunidades e dividindo palco com inúmeras bandas de peso do HC/Metal, a banda vem apresentando ao vivo faixas do belíssimo Karmic Punishment, oitavo disco de estúdio da banda, que foi lançado em 2023, sempre fazendo críticas as mazelas do mundo, a banda é extremamente cirúrgica em canções como Time Heals No Wounds & Last Response.

Obviamente que o clássico History Bleeds, não seria esquecido, com o peso de canções de No Hard Feelings! Fuck You! e a faixa título, após o cover de Sailin' On, dos Bad Brains. Ou o peso absurdo de Urban Decay, e de Reverse The Flow.

Anunciado pra 20:40, o Cro Mags, jogou seu atraso pra mais de 20 minutos, iniciando às 21:00. Supla subiu ao palco e falou de quando havia conhecido Harley, em meados dos anos 90, e o quanto o cara era legal e que ele era real, e símbolo do underground, após as breves palavras dele, Harley entrou no palco com um "baseado", querendo queimar até a última ponta, e exibindo sua camiseta "New York City", sendo que dias antes, a banda havia sido uma das atrações do CBGB Festival, ao lado de bandas como Melvins, Marky Ramone, e Iggy Pop.

A personificação de um cara se redimiu de muitas cagadas feitas na vida (quem nunca), mas feliz de estar tocando e estar vivo, Harley, não escondia sua alegria de estar tocando no Brasil, ao lado dos seus colegas e pra um público sedento de Hardcore.

Formado atualmente por Dave Sharpe e Dominic "Dom" DiBenedetto nas guitarras, e a volta implacável de Pete Hines, na bateria, que havia gravado o Best Wishes. O trio daria todo o suporte Harley, pra poder usar seu Rickenbacker, e poder berrar ao som dos clássicos sons da banda.

As 2 guitarras continuavam ali, sendo uma das potentes marcas sonoras da banda, enquanto Harley injetava energia com seu contrabaixo, a bateria proporcionava impulso pros riffs, como a potente música de início, com direito ao grito de "São Paulo", de Harley em We Gotta Know, do The Age Of Quarrel. Seguida pela mais cadenciada e punk My Life.

Da safra de "novas" canções, tivemos a presença de faixas como: From The Grave e a brutal No One's Victim, do álbum de In The Beginning (2020).

Lá pela quarta/quinta canção, o calor já era exacerbado, o suor corria desde o público até os integrantes da banda. Os stage dives ainda eram tímidos, ainda que as rodas já pegavam fogo desde a primeira faixa. Enquanto a moçada subia pro palco, o segurança tentava dissolver qualquer tipo de pulo, mas o próprio Harley, lhe chamou a atenção, alegando que tudo corria como o planejado. Quando ele mesmo disse pra respeitarem o segurança e curtirem pra valer, e podendo se utilizar do palco, já que aquele era um espaço pra todos.

Aqueles riffs marcantes, que foram fundamentais pro cenário na década de 80, que os coloca na mesma prateleira de bandas como: Nuclear Assault, Suicidal Tendencies, Leeway, Excel, DRI, The Acüssed, com sua mistura de Hardcore/Punk com Metal, faz da banda uma das pedras fundamentais do Crossover, estiveram ali presentes. E sua cabeça te leva pro Age Of Quarrel, que completará 40 décadas no próximo, e continua sendo tão relevante pra novas gerações. Tanto que esse disco prevaleceria massivamente no set da banda.

Não era á toa que Harley empunhou um baixo, com um escudo que continha a capa do disco citado, pra dar continuidade ao show. Harley incitava a diversão, que todos curtissem o momento, e que se alguém precisava ser atingido com violência, era o sistema e não os presentes nos pogos. Foi quando o bicho pegou literalmente com World Peace, que foi como uma mola propulsora de energia e gritos, estava instaurada a catarse coletiva.

O álbum Best Wishes (1989), não foi esquecido, pois faixas como a implacável e pulsante, Days Of Confusion, The Only One, Down But Not Out, foram celebradas da mesma maneira que outras. Harley, citou a família Gracie, do qual ele aprendeu Jiu Jitsu, em Nova York, e leva a prática do esporte até os dias de hoje. Harley, era incansável, interagindo com o público, sorrindo pros colegas de banda e agitando muito. Entoou o grito de "Hardcore" pra quem quisesse ouvir.

Em These Streets, Harley chamava São Paulo pra agitar, e foi o que aconteceu. E foi parafraseando o filme de Francis Ford Copolla, de 1979 e fazendo aparecer o Alpha Omega (1991), que detonaram em Apocalypse Now. Após essa "bomba", emendaram Hard Times, pra fechar a tampa do caixão.

Show curto, como deve ser, algo por volta de 15 canções, com uma hora de duração, mas que explicitamente mostrou o que Harley queria traduzir através da energia das canções e das canções atemporais do grupo, naquele momento ninguém se lembrava que continuava chovendo.