(Entrevista) Adam Blake, H2O
30 Year Plan
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Texto Daniel Agapito
10/18/20248 min read


Não é surpresa para ninguém que o hardcore e o punk são os gêneros com os shows mais enérgicos, onde a loucura come solta. Dentro do hardcore, não são todas as bandas que conseguem manter esse estilo de vida frenético por muito tempo. Acaba que as mais longevas são sempre as que “se venderam” nos anos 90, as que não eram hardcore “de verdade”. Um grande exemplo disso, que apesar de ter quebrado diversas regras lá atrás segue de pé é o H2O, liderada por Toby Morse. Formada lá em 1994 por Morse, após se cansar de ser roadie da Sick of It All, os nova-iorquinos têm se tornado um dos maiores nomes da cena, apresentando um som diferente, ainda direto, mas menos abrasivo, até puxado um pouco para a melodia, também sendo um dos grandes representantes do movimento straight-edge. Eles voltarão para terras tupiniquins nesse mês de outrubro, fazendo shows em São Paulo e Curitiba. Antes de aterrissarem por aqui, conseguimos conversar brevemente com Adam Blake, guitarrista atual da banda, confira, go!
RZ: Podemos dizer que o Brasil é um dos países que vocês mais gostam de vir aqui, já que vocês fizeram 18 shows aqui, excluindo essa tour atual, desde a primeira vez que vieram em 2006. O que vocês diriam é a diferença entre o público brasileiro e o público em outros lugares?
Adam: O público brasileiro e o público da América do Sul, no Brasil, especificamente, é muito apaixonado e muito entusiasmado. Eles nos mostram tanto amor. É o nosso 30º ano, mano. 30 anos de banda. É o nosso 30º aniversário. E para nós celebrarmos e não tocar no Brasil seria loucura - tínhamos que vir.
RZ: Qual você diria, de modo geral, que é a diferença entre o Brasil e os outros lugares do mundo? O que faz o Brasil ser tão especial?
Adam: Eu acho que há uma paixão, e não acho que é apenas por causa da música, acho que é uma paixão e um entusiasmo pela vida em geral, que é só diferente de muitos outros lugares do mundo. Talvez seja o espírito do carnaval, ou algo assim, mas culturalmente há uma energia diferente. Cada país tem a sua própria “vibe”, mas o Brasil ressoa muito com a gente, como banda.
RZ: Sim, e vocês já vieram aqui tantas vezes, você tem alguma história interessante de algo que rolou em turnê, alguma memória dos tempos de vocês por aqui?
Adam: No Brasil, os shows sempre foram ótimos. Minha primeira vez no Brasil foi nos anos 90 com o Shelter. Foi uma loucura, porque tivemos um hit na MTV. Foi super memorável porque foi a minha primeira vez. Você sempre se lembra da sua primeira vez em algum lugar. Das turnês da H2O que fizemos, não tenho uma história só, a coisa toda é divertida.
RZ: Já que você veio aqui com Shelter algumas vezes e muitas outras com o H2O, como você diria que a cena brasileira evoluiu nesses 20, 30 anos desde sua primeira vez aqui?
Adam: O que eu gosto é que sempre temos jovens nos nossos shows. Nós estamos vindo há muito tempo, mas sempre parece que há novos rostos na audiência, o que é um bom sinal. Para uma cena crescer, você precisa ter novos caras vindo, e novos caras se tornando parte dela. Você não pode criar uma cena com os velhos que estão aqui desde os anos 90. Então, ver jovens, ver um público realmente diverso, nos diz que a semente está forte lá, e está saudável.
Foto por Michelle Olaya

RZ: Um pouco menos sério agora, pesquisei um pouco e vi que o Toby ama açaí. Tem alguma comida ou bebidas daqui que você curte?
Adam: Eu amo açaí! Acho que toda pessoa saudável dos EUA ama açaí. Também amo “guarana”, é assim que fala? (Agapito: Sim, guaraná.) Guaraná! Amo as castanhas do pará, são ótimas, super saudáveis - boas para a testosterona. Adoro tudo. A comida aqui é incrível.
RZ: Em termos de bandas e artistas, há algum grupo aqui da América Latina que gostaria de destacar, algo que você gosta? Alguma banda que você ouviu falar?
Adam: Há uma pequena banda de novatos aí no Brasil, chama Sepultura, acho que vocês devem dar uma olhada. Eu realmente acho que eles vão fazer um estrago na cena do metal da América Latina. Ratos de Porão, mas não sei se seguem na ativa. RDP. (Agapito: Seguem na ativa, sim! Eles fizeram um tour de celebração de 40 anos esse ano.) Ótimo! E eu estava pensando que 30 anos de estrada era especial. (risos) Honestamente, eu não estou tão familiar com as bandas novas daí. Espero que eu possa conferir algumas enquanto estivermos aí.
RZ: A turnê atual celebra 30 anos do H2O, o que podemos esperar do set? Um “presnadão” da sua carreira?
Adam: Sim, um pouco de todas as épocas. Colocaremos algumas músicas que não tocamos muito, mas que sempre achamos que dão muito certo na América Latina. Vai ser muito divertido. É a nossa primeira vez lá com o nosso novo baterista e guitarrista, ambos fantásticos, então o show deve ser ótimo. Se você viu o H2O no passado e gostou, vai ficar mais ou menos o mesmo, mas melhor.
RZ: Eu ia perguntar sobre o Max. Essa é a primeira vez que vocês estão aqui com ele na bateria, mas é longe da primeira vez que vocês estão aqui com ele, porque eu lembro de ver várias fotos dele entrando no palco e cantando com o Toby, ele tocando bateria em algumas músicas da turnê de 2019.
Adam: Sim, ele está tocando conosco há anos, ele só nunca tocou um instrumento, sabe? Então essa é a nossa primeira vez com ele, ele é um baterista fantástico, ele traz uma energia nova para a banda, é incrível. Na guitarra temos o Matt, que estava no Madball e no Agnostic Front - é um monstro das 6 cordas.
RZ: Já que vocês tiveram tantos materiais, tantas coisas que vocês lançaram nesses 30 anos, como é o processo para definir o setlist?
Adam: Com tanto tempo de estrada, você acaba percebendo que certas músicas são mais difíceis de tocar, não colam com todos os públicos e você não sempre consegue dizer o porquê, só algumas músicas parecem “virar” mais. Nós tentamos tocar quase todas as nossas músicas nos últimos anos, mas algumas só tomaram um corte, nem todas funcionam bem. Pelo fato de termos tanta experiência tocando algumas músicas, eu sinto que fizemos um set muito bom, tem um bom “flow”, boa energia, se você gostar de qualquer época da nossa banda, há algo no set para você.
RZ: Pulando um pouco para temas não muito relacionados ao show, vocês fazem parte da cena por mais de 30 anos, alguns de vocês seguem sendo straight-edge, praticando o que pregam. Você tem algo a dizer em relação à evolução da cena hardcore em geral nesses últimos 30 anos?
Adam: Eu acho que a cena hardcore se tornou mais tolerante. Quando começamos como banda, haviam algumas regras impostas. Nós quebramos algumas delas. Você não podia assinar com uma gravadora, se assinasse, teria “se vendido”. Não podia ira para programas de TV sem “se vender”. Você era obrigado a tocar um estilo agressivo, um estilo masculino de música. Agora eu acho que a cena hardcore “abriu a mente” muito mais - é muito mais tolerante para coisas que não eram necessariamente toleradas há 30 anos atrás. É uma mudança muito positiva.
RZ: Vocês fizeram alguns shows com o Drain no ano passado, se não me engano, né? Eles são uma dessas bandas dessa nova geração que estão recebendo uma atenção decente do “mainstream”. Eles, Knocked Loose e essas outras bandas. Como está sendo essa atenção mainstream que a hardcore está conseguindo?
Adam: Eu tenho que dizer, fizemos turnê com o Drain na Europa e eles fizeram bons shows, mas o show que vi deles na Califórnia foi ridículo de bom. Eu falei, quem são todos esses jovens que foram pro mosh e cantaram. Cara, foi incrível ver. Eu não sei se eles são “mainstream”, sempre penso que esse termo é mais direcionado ao pop, rock, mas eles definitivamente trouxeram um monte de gente nova que amam o que eles fazem. É incrível ver que a cena segue tão forte

RZ: Voltando ao H2O, o último álbum que vocês lançaram foi “Use Your Voice!” em 2015, há quase 10 anos atrás. Agora com os novos membros da banda, com esse sangue fresco, essa energia fresca, o que podemos esperar do futuro? Podemos ver vocês no estúdio em breve?
Adam: Músicas novas, sim. Nós temos algumas músicas que nós vamos gravar em algum momento. Hoje em dia, o que é ótimo é que você não precisa mais lançar um álbum. No passado, quando você estava lançando um disco grande, você tinha que fazer isso. Você tinha que lançar um álbum. Agora, com a música, através do streaming, você pode só lançar 2 ou 3 músicas avulsas. Então eu acho que é isso que vamos fazer, soltar algumas músicas e soltar mais algumas quando acharmos que o material é bom e o tempo está certo.
RZ: Eu já conversei com um monte de gente de vários de gêneros diferentes e todos têm uma opinião diferente sobre isso, então, quero te perguntar, qual é a sua opinião sobre o streaming? Isso ajuda a música ou prejudica a música?
Adam: É uma faca de dois gumes. Afeta no aspecto financeiro, você recebe muito menos pelas músicas. Ajuda também porque você não precisa mais ter um selo, uma gravadora. Ninguém está te impedindo de lançar sua música para o mundo inteiro. Pode lançar do jeito que você quer, qualquer estilo que você quiser fazer, ninguém vai te dizer que não é bom. Você consegue lançar. Então eu acho que querendo ou não, do ponto de vista artístico, é uma coisa muito positiva. Do ponto de vista comercial, não muito.
RZ: Já que você falou de lançar qualquer música, qualquer estilo vocês lançaram uma música há um tempo que foi de um estilo diferente e teve uma reação bem mista – seu cover de “Like a Prayer”, da Madonna.
Adam: Na época, foi até bem recebido. Nós não tocamos mais. Foi um momento muito específico. Foi em 2001 ou algo assim - há muito tempo. Na época, era a coisa certa a fazer, mas nós não tocamos mais. Não é algo que fazemos mais.
RZ: Então os covers não estão mais nos planos de lançamento do H2O?
Adam: Nós fizemos um álbum de covers em que nós homenageamos às bandas que nos inspiraram. Eu não sei se nós vamos fazer mais covers. Somos uma banda democrática, se 3 integrantes quiserem fazer, os outros dois têm que ir junto. Acho que dada a situação em que estamos agora, é muito melhor nos concentrarmos em lançar música nova. Música nova do H2O. É um uso mais efetivo do nosso tempo.
RZ: Voltando ao que conversamos no começo, há algo mais que você gostaria de comentar em relação aos shows por aqui?
Adam: Nós estamos muito animados para ver todos. Como eu disse, esses 30 anos, não são só da banda, mas 30 anos de uma banda e um público crescendo juntos - nós somos apenas metade da história. Isto é tanto sobre o público e a cena brasileira sendo celebrada por nós quanto é sobre nosso aniversário de 30 anos.
RZ: Para encerrar aqui, você tem alguma mensagem, algo que gostaria de compartilhar com seu público brasileiro?
Adam: Pior que não, só estou muito ansioso para ver vocês por aí nos shows! Nos vemos lá!