Fuzztones crava um marco no underground brasileiro

Das catacumbas de Nova York, Rudi Protrudi comanda uma festa de garage rock

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Texto German Martinez - Fotos Tiago Rossi

4/18/20255 min read

Escolhido pra uma quinta feira, véspera de um feriado prolongado, o que seria uma boa pra muitos, inclusive pra nós, começou com um trânsito caótico desde os arredores da nossa terra natal, Atibaia. Com velha corrida pelo "feriadão", os paulistas e os visitantes foram tentando caçar espaço em todo lugar que fosse, sejam eles rodoviárias, aeroportos e principalmente tomando as ruas.

Nas imediações do Cine Jóia, estava tudo aparentemente tranquilo, causando até um frio na barriga, de que fosse algo pra pouquíssimos gatos pingados. Passavam das 19:30, e ainda a paz reinava nos arredores, a banda que abriria os trabalhos seriam os incríveis Gasolines, clássica banda de surf/garage criada ainda no longínquo ano de 1993.

Destaque pra participação de Clayton Martin, do finado Detetives, e ícone do cenário garageiro paulistano. A noite se encerrou com Gregor, baterista da banda, cantando 2 faixas, inclusive uma versão do hit radiofônico de Roberto e Erasmo: Vem quente que estou fervendo.

Entre os intervalos a pista pegava fogo com a discotecagem de Cintia Sixtie & Ultrachik, animando a galera só com vinis.

Logo na sequência, vieram os geniais Autoramas, essa foi nossa primeira oportunidade de conferir de perto a nova formação, que hoje conta com Luma Garcia nos teclados e voz, Igor Sciallis na bateria, Jairo Fajer no baixo, e obviamente Gabriel Thomaz. Estandarte do cenário garageiro deste país.

E como era de esperar já que eram 2 bandas de abertura brasileiras até a performance da principal, os sets seriam curtos. Mas pense num repertório totalmente certeiro, entre elas, o Autoramas disparou canções como: Fale mal de mim, Carinha triste, Você sabe, Abstrai, entre outras.

No fim do show, Jairo foi "pra galera", e daí Luma também foi, enquanto Gabriel agitava na beira do palco. Um fim totalmente festeiro.

Eu costumo dizer que quando a platéia é forrada de músicos de inúmeras bandas ativas ou inativas, é porque o show promete e muito. E foi uma reunião e tanto, com integrantes de bandas como: Thee Dirty Rats, Modulares, Emicaeli, Maga Rude, Rock Rocket, Muzzarelas, Drakula, Zumbis do Espaço, Corazones Muertos, Grindhouse Hotel, Sentimento Carpete, e muitas outras.

E o assunto que toda roda de conversa tinha, era que, aquele seria um momento único, já que todos duvidamos que algum momento de nossas vidas, teríamos a chance de ver os Fuzztones, e uma parte desse sonho foi concretizada pelo mago argentino "Pirulo", do selo maravilhoso Rastrillo Records, que lançou discos de bandas como: Motosierra, Culpables, Silverados, Evil Idols, Manganzoides, Forgotten Boys, entre muitos outros. Se você não conheceu ou nunca ouviu essas bandas e tais materiais, talvez seja a hora você descobrir todo o trabalho que a Rastrillo fez em mais de 20 anos de atividades.

Com o clima lá no alto, depois dessa performance redonda dos Autoramas, o Fuzztones cometeu o erro de deixar esfriar demais o público, com uma entrada no palco que só ocorreu mais de 40 minutos depois, já criando uma certa impaciência de alguns presentes.

Os integrantes subiam ao palco, colocavam bebidas ao lado dos equipamentos, mas voltavam ao camarim, depois de idas e vindas, de fato lá perto das 22:40, o quarteto introduziu Blues Theme, e deixou o som rolando até que Rudi Portrudi, chegasse com sua gaita pra 1-2-5. E foi assim que o clima voltou esquentar, deixando de lado o atraso, ainda que tolerável.

Logo de cara, veio Bad News Travels Fast, clássica ao extremo. E o fato é que a banda que acompanha Rudi é impecável, soando realmente bem. Trajados com suas clássicas jaquetas ao melhor estilo "Hell''s Angels", fizeram a lição de casa com louvor. Foi com Bad News, que minha cabeça logo foi pro Los Peyotes, da Argentina, que muito traziam do Fuzztones em suas performances, mais caóticas obviamente, mas com influências de Rudi.

Com direito a pulinho de empolgação de Rudi, veio com I Never Knew, com a imponente presença do órgão Crumar de Nico Secondini, que agitava sua vasta cabeleira desde o princípio do show. Com as luzes deixando o palco vermelho como o inferno, a banda disparou Action Speaks Louder Than Words. Na sequência veio a épica Ward 81, seguida de Just Once, destacando desta vez Marcello Salis, que ficou no canto esquerdo quieto num estilo Mick Mars. Já estávamos perto dos 30% de jogo rolando, e o que já se sabia era que a vitória era certa pros Fuzztones, chamaram a responsabilidade pra si, e foram enfileirando clássicos atrás de clássicos.

Novamente Rudi empunhava sua guitarra vox, pra interpretar Brand New Man, tirando uma sonoridade impressionante da banda, em que Paul Rodas e Marco Rivaglia, faziam a cozinha soar poderosa. O baile seguia, e quem estava desavisado não dançou ao som de Johnson in a headlock e Barking Up The Wrong Tree. O disco que permeou todo o setlist foi obviamente Lysergic Emanations.

Protrudi, chamou o povo pra Highway 69. Era hora de seguir prestando tributo, e Rudi, começou com Green Slime, dos próprios Green Slime, tocou Romildar D, e voltou as homenagens com Gotta Get Some do The Bold, emendada com Black Lightening Light de Johnny & The Shy Guys, que particularmente foi um estouro e acabou com o set principal.

E era óbvio que todos queriam ouvir as versões de The Sonics, e vieram com Cinderella, depois She's Wicked, e talvez a maior canção da história do grupo, Strychnine, dos Sonics.

E fecharam a tampa do caixão, como se não houvesse amanhã.