Lucifer: dançando sob as tumbas

Quinteto se apresentou no último domingo no Fabrique Club

RESENHA

Texto: German Martinez - Fotos: Tiago Rossi

10/11/20246 min read

Eis que o grande dia chegou, pra muitos essa data já se fazia necessária desde que a banda havia passado pelo Brasil em 2022.

Um "domingão" onde o assunto eram as eleições municipais. O transporte público operou gratuitamente levando gente de ponta a ponta da cidade de São Paulo.

As bandas convocadas foram escolhidas a dedo, as portas logo abriram pro quinteto paulistano Night Prowler destilar o puro heavy metal, as referências de bandas como Iron Maiden, Accept, U.F.O, se mostravam nítidas na sonoridade da banda. A banda executou faixas do seu belíssimo disco homônimo de estréia. Que já contava com faixas de alto calibre como "Never surrender", "No escape", "Make it real" e "The witche"s curse".

Os singles mais recentes como: "Free the animal", "Tightrope", "The Darksider", demonstram a qualidade da banda na sua proposta de sonoridade e fizeram o "esquenta " com categoria.

Se o lance era falar de ocultismo e transformar a casa (Fabrique Club) num ritual, esse papel certamente foi feito á altura com o Weedevil. Com Paulo Ueno de volta às guitarras, trouxe ainda mais peso e sujeira ao som da banda.

No setlist a banda executou quase na íntegra o álbum "Profane Smoke Ritual" com faixas como: "Serpent's Gaze", 'Chronic Abyss of Bane", "Profane Smoke Ritual", "Necrotic Elegy". A nova vocalista Poison traz sua voz potente pra contrastar entre paredes de guitarra.

Usando e abusando do "Doom" mais clássico, o baixo de Cláudio Funari chega rasgando em todas as faixas como é o mandamento.

Ponto de destaque pro jovem guitarrista Henrique Bittencourt que pratica uns riffs altamente viajantes, enquanto a banda quebra tudo. No intermédio coube "Underwater", single lançado em 2022.

A batida cavalar de Flávio Cavichioli assusta os mais incrédulos no peso que ganha ao vivo, com direito a última faixa "Serenade Of Baphomet", lembrar o High On fire com uma bateria "agressivaça".

A banda mineira Tantum, formado Pedro Cindio na bateria, João Brumano na guitarra, Laer Aliv no baixo e Chervona nos vocais, acabara de lançar seu novo single "Rojo", na quinta feira que antecipava o show. E o que dizer desta perfomance? De cair o queixo!

Enquanto a banda ao fundo, funde heavy metal com hard rock, a vocalista Chervona aplica o seu lado performer e dançarina. Evocando os fãs pra extravasarem junto da banda que se empolgava a cada acorde como em "Ivory Towers", "Blind Snake".

A estética imponente de Hard/Heavy oitentista aguça ainda mais a atenção ao palco. Numa das canções o grupo usa capuzes negros, enquanto Chervona trazia um pano branco, representando a justiça cega.

No setlist a banda privilegiou canções do disco "Turning Tables" mas também fez questão de tocar faixas inéditas como "Speed (Addicted)" e "On the road".

É impressionante o quanto Chervona é perfomártica quando invade o palco vestida de noiva e bocejando vinho que sujavam seu corpo como sangue. Além disto ela assume teclados e uma flauta pra incrementar ainda mais o som da banda.

Também de Minas Gerais, era hora de finalmente conferirmos o show dos nossos amigos do Pesta, e que o falar sobre uma das bandas mais interessantes dos últimos anos no Brasil. Categoria ali não falta, no bom gosto das viradas de Daniel Rocha nas baquetas, no baixo pulsante de Anderson Vaca e na guitarra impiedosa á La Black Sabbath de Marcos Cunha. Mas e o vocal? Thiago Cruz é um capítulo á parte neste texto.

Thiago transcende uma energia impecável, ao se mostrar totalmente a vontade de cantar as canções do grupo, suar literalmente a camisa, e pisar de pés descalços no palco.

Faixas como "Witches'Sabbath", "Anthropophagic" do excelente "Faith bathed in blood", foram executadas com o som no talo, e como algum espectadores comentavam: 'Agora sim, som de gente grande".

Altamente competente no palco, o Pesta tocou "Marked by hate", em primeira mão, uma faixa inédita do vindouro álbum que deve sair no primeiro semestre de 2025, que aguardamos ansiosamente. A despedida foi com "Words of a madman" com Thiago agradecendo imensamente pelo acolhimento do público paulistano.

Os paulistanos do Space Grease, tiraram um coelho da cartola, com a saída de Glauco, recrutaram Tonhão Fermentão (Corona Kings/Molho Negro) pra bateria, e o que se viu ali, foi não ter dó do instrumento. Caíque Fermentão, irmão de Tonhão, tocou tumbadoras também como convidado.

O Space faz um som altamente viajante baseado no seu EP, "Can't hide" do qual a primeira parte do show foi dedicado á ele. Em faixas como "Burning inside my chest", "Breakdown" e a faixa título do EP.

A banda fritou com as guitarras de Franco Ceravolo e Diego Nakasone, além do baixo preciso de Tonhão (Infamous Glory), no palco pra deleite dos espectadores. O set contou com 3 faixas novas "Empty Man", "Lose Control", "Cheap drugs", que em breve devem ganhar as plataformas digitais. O quinteto finalizou sua performance com a impecável "Separation Time", que além de uma bela canção, recebeu uma versão lindíssima pra camiseta da banda, vendida no show.

Já com seu habitual fundo de palco com iluminação vermelha, e painel que lembra os espetáculos dos anos 60. A banda entrava no palco ao som "Crucifix (I burn for you)", que logo tropeçou com um som mal regulado que se estendeu até pelo menos a terceira música, onde de fato todos os instrumentos ficaram bem equalizados. Guitarras pro alto era hora de "Ghosts", grandiosa faixa que abre o álbum lll.

Mas que nada impedisse o andamento do show e o que público presente não cantasse junto. O riff "classudo" 'Midnight Phantom", com seu refrão pegajoso, foi um dos destaques. "Dreamer" uma das mais emblemáticas canções da banda veio na sequência.

A banda, digamos veio mais solta pra esta apresentação do que na sua última vinda. É certo que faixas do primeiro disco da banda, são descartados, talvez porque ainda não tivessem o Nicke "Royale" Andersson, mas que são grandes canções não há sombra de dúvidas.

A pesadíssima e soturna "Wild Hearses", quase ensaiou um acendimento de isqueiros que logo foi cancelado pelo alto número de celulares gravando o momento. "Fallen Angel", trouxe aquela bateria com "punch" de Nicke, com guitarras ácidas.O público estava empolgado, mas a explosão realmente com a "saideira" "Bring me his head", quase levou abaixo o Fabrique.

É de ressaltar que as faixas do mais recente álbum, como "A coffin has no silver linging", "Slow in a dance crypt", "At the mortuary" e "The dead don't speak" soam ainda mais pesadas devido á sua sonoridade carregada. Johanna Sadonis conduz o público na palma da mão, com seu impecável talento vocal, com um timbre lindíssimo que só ganha destaque a cada faixa.

O bis, trouxe a já clássica "Maculate Heart" do mais recente álbum V, seguida de 2 pedradas do terceiro álbum, 'California Son" e "Reaper on your heels"

O show é realmente curto, mas é do jeito que deve ser. Ele te impacta ali nos menos de 80 minutos. Enfim, a alma saiu lavada mais uma vez!