Massarifest: uma explosão sonora

A juventude sônica não morreu

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Texto German Martinez - Fotos Bruna Sizilio

9/22/20256 min read

Eu acredito que, muitos assim como nós, se faziam a mesma pergunta, quando foi que o aniversariante entrou na sua vida musical, e temos certeza que todos refletiram sobre isso, no último domingo 14/09, a data era pra celebrar os 61 anos, de um dos maiores entusiastas da música não convencional no Brasil. Talvez inconscientemente ele já fazia parte das nossas listas de músicas e álbuns que foram fundamentais pra nossas vidas e ninguém tinha se dado conta.

Desde os tempos áureos da MTV, Massari foi fundamental ao apresentar bandas "gringas" e incentivar tantas outras nacionais, e que essas chegassem aos bons ouvidos de uma geração sedenta por música. E se no ano passado, nós vimos os japoneses do Acid Mothers Temple, tivemos também os queridos Devotos e a Patife Band, de Paulo Barnabé. Sob a curadoria do próprio Massari e de André Barcinski, eles decidiram realizar uma nova festa pro Reverendo. E desta vez tivemos um line up que consistia com a presença do Retrato e Oruã, tocando juntos, Bufo Borealis, Violeta de Outono, e os norte-americanos do A Place To Bury Strangers.

O que é costumeiro nos eventos em São Paulo é que o público chegue em cima da hora, somente pra ver a banda principal, mas o que realmente me surpreendeu foi que pontualmente quando de fato se iniciou a performance do Retrato + Oruã, o público já se fazia presente, é cada vez mais só aumentando. Isso significa que as bandas haviam sido bem escaladas pro Fest.

De forma talvez inusitada, em cima do palco todos juntos, o Retrato e Oruã, juntaram forças pra realizar o primeiro show do dia, e trazer todo o experimentalismo que recorre do estilo de ambas as bandas, que agora possuem Ana Zumpano nas baquetas. Eles dividiram sons de ambas as bandas no set, e colocando toda sua criatividade musical nas canções.

Já conhecido como um "combo", o Bufo Borealis estampou nas projeções a figura de Hermeto Pascoal, falecido um dia antes. E daí já era feita a devida homenagem o gigante alagoano. Musicalmente o Bufo, exibiu o peso do jazz- fusion, que vem lhes trazendo notoriedade no cenário musical paulistano. O som que flerta também com funk, com atitude punk. Formado por grandes figuras do circuito underground, o grupo vem fazendo um som experimental que te faz dialogar com as grandes bandas de jazz/funk, com sua identidade própria de interpretação.

Trazendo aquele ar nostálgico e pós- punk psicodélico, Fábio Golfetti na guitarra e vocal, Angelo Pastorello no baixo e Cláudio Souza, na bateria, de cara abriram com seu maior clássico, na nossa opinião, Dia Eterno. E que sensação agradável foi ouvir os timbres clássicos de canções como Mulher na Montanha, Reflexos da Noite. Ainda teve direito a versão de Tomorrow Never Knows, dos Beatles.

Os integrantes do A Place To Bury Strangers, já perambulavam pelo recinto, fazendo parte do público espectador. Era óbvio que havia uma certa curiosidade em ver a banda de Oliver Ackermann, já que eles haviam vindo da última vez em 2019, e tocaram no Centro Cultural São Paulo, onde fariam 2 dias de shows, mas que só acabou acontecendo somente em um dia, porque houve um problema de energia no CCSP, e no dia posterior fizeram 2 sessões, onde tocaram o clássico Worship, de 2012 na íntegra e depois uma performance habitual e caótica como sempre.

Enfim, essas apresentações separam 6 anos da banda, e a formação já não é a mesma. Se naquele momento, nós tínhamos Dion Lunadon, o "doidaço" baixista que fazia das performances ainda mais alucinantes, fazendo voar seu contrabaixo ou tocá-lo com uma corrente das mais grossas. Formada atualmente por Sandra Fedowitz e John Fedowitz, o casal perfeito musicalmente que se aliou ás loucuras de Oliver, não deixam entregar energia pros shows.

E obviamente aqui no Brasil não ficariam devendo, com a guitarra no talo soando nos amplificadores, e a cozinha meio que ficou abafada, no meio de muitas luzes e fumaça, o show foi tomando corpo. Oliver já vinha "endemoniado" da forma que tocava sua guitarra toda torta e velha. Muitas das vezes, Oliver destrinchava sua guitarra, colada ao seu peito, assim como Mark Bowen do Idles ou John Dwyer, dos Thee Oh Será. Por volta da terceira faixa, Oliver já espancou sua guitarra de encontro ao chão. Enquanto a cozinha fazia a cama pras "doideiras" do Oliver, tudo se tornava caótico com projeções atrás da baterista e a junção frenética de luzes que só estimulavam a loucura que talvez funcionassem com algum tipo de entorpecente "ilícito".

Oliver desceu do palco e foi pro fundo do Fabrique, perto da mesa de som, e lá pediu pra Sandra levar seu bumbo e logo, John foi também, sob luzes vermelhas, aquilo poderia ser dito que estávamos num inferno. Batidas repetitivas, notas repetidas e uma voz cheia de reverb e dilacerante, do qual Oliver arrastou o fio do microfone que por muitas vezes, ficou silencioso, só ao som das batidas de bateria e baixo. De volta ao "palco" tradicional, e com todos já embasbacados, o trio não diminuiu o frenesi que haviam causado no meio do público, e ali mais fumaça, luzes.

Enquanto a música ainda rolava de forma acelerada, ele desenrolava uma extensão, que tinha um estrobo de luz branca, do qual a banda pediu pra abaixarem mais as luzes pra que esse estrobo ficasse de forma pulsante durante as canções, muitas das vezes sobre o rosto de Oliver, depois de John e posteriormente de Sandra. Oliver puxou o bumbo e a caixa de Sandra pra frente do palco, e posicionou novamente o estrobo pra poderem trazer uma outra atmosfera ao show.

O sentimento de estar onde o A Place toca é algo indescritível, quase inenarrável, onde fomos afundados entre inúmeros pedais, destilando um turbilhão de efeitos. John assumia os vocais em algumas oportunidades, deixando Oliver exorcizar suas outras guitarras, até que o próprio empunhou novamente a primeira guitarra destruída no início do show.

Como se fôssemos arremessados numa parede, e perder o oxigênio, e ser apedrejado de tanta saturação, foi o que a banda nos proporcionou nesta noite. Digno de aplausos e uns breves gritos pra voltarem, eles literalmente não voltaram, porque já não havia mais energia pra continuar depois dessa devastação sonora