Mudhoney volta ao Brasil após 11 anos de espera

Após uma edição do Sub Pop Festival em São Paulo, banda retorna pra 4 datas no país

RESENHA

German Martinez

3/14/20257 min read

Buzz Osbourne, declarou que bandas como Nirvana ou Soundgarden bebiam da fonte dos Melvins, e muitos sequer reconheciam essa influência e muitas das bandas também que se vangloriavam do estilo, sequer eram algo na essência, com essas frases sempre impactantes, Buzzo definiu o que foi Seattle nos tempos áureos.

O Melvins de Buzz Osbourne, ao lado do Green River, fizeram aquela época de Seattle criar novos rumos pra música independente. O Green River tinha na sua formação ninguém menos que Mark Arm e Steve Turner, que haviam se conhecido no Mr Epp, e que posteriormente formariam o Mudhoney, e Jeff Ament e Stone Gossard que formariam o Mother Love Bone e posteriormente após a morte de Andrew Wood, o Pearl Jam.

Com o Green River a semente estava plantada, mas não haviam somente eles, mas sim bandas como: U-Men, Skin Yard (banda de Jack Endino e Matt Cameron), Screaming Trees dos irmãos Van Conner e Mark Lanegan, já vinham fazendo barulho por Seattle. E o que tanto se fala sobre o Seattle, mas o que de fato é verídico?

Uma cidade localizada na costa oeste dos Estados Unidos, que faz parte do estado de Washington, com um clima repleto de montanhas, florestas e muitas vezes um clima esquisito. E bem próxima ao Canadá.

Seattle nunca esteve tanto nos holofotes a não ser por ser a cidade na natal de Jimi Hendrix ou do tempo áureo da equipe de NBA, Seattle Supersonics.

Enquanto nesse meio de década se vivia ainda o embalo do hard rock farofa do lado californiano, o punk e o hardcore também californiano e na capital Washington D.C., viviam uma catarse coletiva de bandas e movimentos que arrastavam os jovens pras casas de shows. E lá num canto quietinho, os jovens de Seattle vinham fazendo seu barulho.

Quando a Sub Pop chega ao mercado, pelas mãos de pessoas como Bruce Pavitt e Jonathan Poneman, começam a investir na criatividade dos músicos locais, apostando numa coisa que muito lembrava o trabalho de selos como Dischord ou SST, que justamente vinham de Washington DC e Califórnia respectivamente. A Sub Pop, começou a agitar a noite local , sempre ajudando novas bandas e lançando compilações e singles.

Quando muitas bandas começam a morrer, muitas nascem, e das cinzas do Green River, nasce o Mudhoney, inspirados pela obra cinematográfica do diretor Russ Meyer, eles adotaram o nome pra banda e que na época se formou com Arm, na guitarra e vocal, Steve Turner, guitarra, Matt Lukin, que era da primeira formação dos Melvins no baixo e Dan Peters, na bateria, este que se fez presente numa das repentinas formações do Nirvana, após a saída de Chad Channing e que dali por um período partiu pra uma temporada com os Screaming Trees. Se muitos queriam emular coisas atuais e soarem bobos, o Mudhoney se preocupava em cantar sobre o cotidiano, e pegar o melhor de bandas como MC5 e The Stooges.

Era uma enxurrada de bandas, mas era inquestionável que muitas eram péssimas, ou no mínimo, não tinham personalidade nenhuma, mas o que ocorria era que a grande maioria não se parecia com nada, e é daí que você cria um parâmetro que as bandas eram totalmente distintas, mas que tinham talento além do imaginado.

Como primeiro passo com a Sub Pop, os caras caíram no estúdio com Jack Endino e gravaram Touch me I'm Sick e Sweet young thing ain't sweet no more, que logo virou item de colecionador já que gravadora lançava em várias cores em formato vinil 7". Sem antes sequer gravar o primeiro registro, eles foram a Berlin, e causaram um frisson geral no cenário independente.

Assim como outras bandas, o Mudhoney, estreiou lançando um EP, coisa corriqueira da época, e que visto hoje é uma espécie de greatest hits, um disco que com apenas 6 faixas, que possuía um repertório do calibre de pérolas como If i think, In out of grace, Need, Mudride, No one has, Chain that door. Com esse material o Mudhoney já vinha chacoalhando a cidade. A capa era um retrato do fotógrafo e amigo Charles Peterson, captando os momentos catárticos de Arm e Steve no palco. Com a arte que fazia referência aos seus pedais favoritos que pra sempre mudariam a vida da banda, o Univox Superfuzz e o Eletro Harmonix Big muff.

Em 1989, a Sub Pop convidou a banda pra um disco cheio, a banda encaçapou no mínimo 3 hits no cenário underground, You Got It, Here Comes Sickness e When Tomorrow Hits. Um disco louvável pra uma estréia.

E foi aí que uma juventude se ligou pra tudo que vinha acontecendo, Mudhoney, Nirvana, Soundgarden, Alice In Chains, viriam a ter seus 15 minutos de fama, outros sequer contrato com uma gravadora.

O ápice criativo da banda viria com "Every good boy deserves fudge", um disco que alcançou o número de 100.000 cópias vendidas pra uma banda independente, era um fato inacreditável, mas a Sub Pop que ainda os mantinha no cast, não os segurou e eles foram procurar selo noutra freguesia.

Em 1992, após a explosão do Nevermind, eles estamparam a revista The Rocket, satirizando a capa do Nirvana com o título de "vendidos", já que haviam acabado de assinar com a Reprise Records, que lançara Piece Of Cake.

Após essa fase Mark Arm, sofreu pela dependência quimica pela heroína. E após viver nessa montanha russa de emoções, ele foi tocar guitarra no Bloodloss, banda australiana de garage rock, do qual Mark era amigo dos caras, e que consequentemente trouxe anos mais tarde Guy Maddison, pra posição de baixista deixada pela saída de Lukin.

Apesar de tudo isso a banda ainda tinha lenha pra queimar e lançou Five Dollar Bob's Mock Cooter Stew e My brother the cow.

Os diretores Adam Pease e Ryan Short, soltaram o documentário I'm now: The story Of Mudhoney, um belíssimo apanhado da história da banda, que inclusive possui muitas cenas de shows no Brasil. E captam toda a essência do quarteto.

O guitarrista Steve Turner, lançou seu livro Mudride, contando também um pouco da trajetória do grupo e da explosão do grunge, assim como Keith Cameron, jornalista renomado lançou a biografia Mudhoney: The Sound and Fury From Seattle, traçando uma linha do tempo na carreira da banda

Brasil

A conexão do Mudhoney com o Brasil começou tardiamente, ocorrendo somente em 2001. Logo depois viriam a convite do Pearl Jam, a banda abriu os shows em São Paulo, no estádio do Pacaembu. Tanto que Arm como Steve subiram ao palco pra tocar Kick out the jams, com os conterrâneos. Fazendo alegria de fãs que queriam ver as 2 bandas. Também em 2005 Mark Arm desembarcou no Campari Rock, ao lado de Wayne Kramer, Dennis Thompson e Michael Davis pra celebrar um show histórico com o remanescentes do MC5. Não demorou muito pra banda voltarem 2007.

Em 2008, produzido pelo próprio André Barcinski, na sua casa de shows, Clash Club, localizado na Barra Funda, em São Paulo, trouxe a banda pra 2 noites caóticas, uma com os goianos do MQN e a outra com o Supergalo, de Alf (ex-Rumbora). Nessa mesma oportunidade o selo goiano Monstro Discos, havia lançado um tributo a banda intitulado de March to Sickness, que continha versões de Autoramas, Amp, Lucy and The Popsonics, entre outros.

Sem contar que a banda acabara de lançar o maravilhoso "The Lucky Ones", que particularmente é o nosso álbum favorito dos anos dos 2000 da banda, e já continha petardos como I'm now e a chapada The Lucky Ones.

Em 2010 a banda passou pela capital paulista, Mogi das Cruzes e São José do Rio Preto. E depois voltaria pra uma edição lindíssima do Sub Pop Festival, pela primeira vez em São Paulo, e contou com nomes como Metz e Obits, e foi feito na Audio Club.

Em 2023, tivemos a oportunidade de entrevistar Mark Arm, e acabou sendo nossa capa de aniversário de 3 anos da revista. O álbum de divulgação era o Plastic Reality, o disco mais recente, que contém um punhado de grandes canções que já fazem parte do repertório ao vivo do grupo.

O que podemos esperar deste show no Cine Jóia, e dos shows que também passam por Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, é um reflexo de tudo que a banda lançou em quase 4 décadas de trajetória, são 4 caras que antes de tudo, são amigos, se divertem juntos, bebem juntos e que possuem uma banda que os leva pro mundo todo pra se divertir.

Se não for pra ser assim, a vida não faria sentido.

Ingressos:

São Paulo https://fastix.com.br/events/mudhoney

Rio de Janeiro: https://www.eventim.com.br/artist/circo-voador/mudhoney-no-circo-voador-3747504/

Belo Horizonte: https://www.sympla.com.br/evento/mudhoney-noite-quente/2622106

Curitiba: https://meaple.com.br/rider2/mudhoney