Ney Matogrosso: um espetáculo de tirar o chapéu
Com sua turnê Bloco na Rua, Ney cativa público paulistano
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Texto German Martinez - Fotos por Raíssa Corrêa
8/20/20255 min read


Sabe aquele tipo de artista que você por algum motivo esdrúxulo deixou de assistir? Pois é, o Ney era um que estava nessas listas, que por algum motivo, razão ou circunstância, tínhamos deixado de ver ao vivo. Enfim esse momento se concretizou. Na sua turnê de sucesso que vem sendo "Bloco na Rua", que foi iniciada em 2019, Ney adicionou mais uma data desta vez para agraciar o público paulistano.
Na crista da onda, do filme recentemente lançado na plataforma Netflix, e estrelado por Jesuíta Barbosa, a vida de Ney é reverenciada no longa metragem Homem Com H. Ali muitos que não conheciam a irrefutável obra de Matogrosso, puderam adentrar um pouco mais em sua carreira vitoriosa. Entre paixões e brigas, e amadurecimento no filme, o retrospecto abrange desde sua infância aos seus quase 80 anos de vida. Ney, sempre criativo e espetacular, balançou a mídia desde os anos 70, com sua brilhante aparição com os Secos & Molhados. E daí em diante com sua esplendorosa carreira solo.




Mas vamos aos fatos, este show, enfatiza intensamente o lado artístico de Ney, onde ele optou por fazer inúmeras versões de canções da MPB, e aí que entra o lado "crooner" de Ney, no qual ele revela um dom magnífico de "versionar" canções que já são clássicas, mas com a cara dele. Na entrada do Tokio Marine Hall, localizado nas imediações de Santo Amaro, viu a casa encher e enxergar uma geração com mais de 50, 60 anos de idade, mas também com alguns jovens tendo interesse na sua obra.
O repertório é impecável, e ele abre com Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, de Sérgio Sampaio, uma obra prima dos anos 70, uma canção tom revolucionário, já que foi escrita em plena ditadura, ali, Ney vai a fundo chamando a responsabilidade pra si, e transforma a canção como se fosse dele, tamanha a entrega que ele faz no palco. A banda que o acompanha é de cair o queixo, e tem o monstro Marcos Suzano, como capitão do time.
Metais pontuais, baterista preciso e um percussionista avassalador, que só faziam que as canções crescessem cada vez mais. Homenageando a rainha do rock brazuca, Ney interpreta Jardins da Babilônia, do disco de 1977, da titia Rita Lee. Fazendo todo público cantar junto. O Beco, eternizada no Bora Bora, de 1988, d' Os Paralamas do Sucesso, que conta abertamente sobre a violência praticada no pais na década de 80, pegou firme na sua pegada de Dub/Reggae.




Talvez desconhecidos aos ouvidos de muitos, Ney escolheu 2 faixas do eterno paulistano da gema, Itamar Assumpção, trouxe uma nova roupagem pra Já Sei. Considerado pela mídia, um dos ícones do "brega", Pavão Mysteriozo, trouxe projeções aos telões da casa, numa pegada mais introspectiva da canção.
Se o assunto era MPB, A Tua Cantiga de Chico Buarque, mostrou toda a veracidade da interpretação de Ney. Contemporâneo de Ney, o baiano Raul Seixas, foi condecorado com uma versão lindíssima de A Maçã. Yolanda, canção cubana de Pablo Milanés, traz Ney liberto de qualquer tipo de amarra pra um momento ímpar do show. O cearense Raimundo Fagner teve Postal de Amor, relembrado no show. Já era metade do show, e aquilo crescia cada vez mais.
Estranha Toada, do artista recifense Martins. As projeções conversavam com as canções que davam andamento ao show, e os lasers compunham um contraste incrível, chamando a atenção pra iluminação incrível do show. Uma das mais esperadas (pelo menos pra nós) era a interpretação de Ney, pra uma canção do saudoso e querido Erasmo Carlos, em Mesmo Que Seja Eu, botando todo mundo pra cantar. A já citada obra de Itamar Assumpção, agora com a linda Já Que Tem Que, que fica ainda mais "suingada" pela batida dos instrumentos e pela desenvoltura de Ney no palco, caminhando de lado a lado.
Numa versão "meio" que Furacão 2000, em ritmo "funkeado" e demostrando a versatilidade da banda e de Ney, O último dia de Paulinho Moska, recebeu gritos e sussuros pelo requebrado do mesmo. Única canção do repertório dos Secos e Molhados, Sangue Latino, mostrou o "porquê" foram uma das melhores bandas dos anos 70, na América do Sul.






Pela primeira vez na noite, Ney se comunicou com a platéia e disse que o show teria acabado ali, mas aí o povo o aplaudiria e ele fingiria que tinha saído do palco pra cantar mais 4 canções, Ney disse que não sairia, que quando acabasse seria o ponto final do show, e que o deixassem em paz, sendo um dos momentos mais engraçados da noite
Ney, puxou novamente seu banquinho, declamou a emocionante junto do piano de Como 2 e 2. Na sequência fez de Poema, uma das mais novas canções de sua carreira, soar ainda mais brilhante. E se teve Secos e Molhados, tinha que ter Os Mutantes, a perfeita Balada do Louco, foi irresistível do início ao fim. Se era pra ter uma despedida á altura, teria que ser com uma das canções mais importantes da sua carreira, e voltamos lá pra 1983, com Pro Dia Nascer Feliz, de autoria de Cazuza.






Ney se despediu como gigante que é, entregou um espetáculo, e uma coleção de músicas inesquecíveis, com o toque peculiar que somente ele conseguiria dar.