O garoto do cortiço que foi além de um quintal

Bobby Gillespie traz o Primal Scream de volta ao Brasil, após 7 anos

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German Martinez

9/18/20255 min read

Era comum você se confundir com os sobrenomes nos anos 80, porque a informação não era como nos dias de hoje, tudo num "touch" na tela de um celular, em meados dos anos 80 integrantes do Duran Duran, como Andy, John e Roger eram facilmente confundidos com alguma profundidade de parentesco com o baterista do Queen, o próprio Roger Taylor. E havia um tal baterista, um jovem prodígio no meio da música britânica que era confundido com o mago do Jazz, o trompetista Dizzy Gillespie, e ainda por cima havia um continente de distância, pois Dizzy havia nascido na costa leste dos EUA, em Cheraw, no condado de Chesterfield, e outro, um garoto da classe trabalhadora de Springburn, em Glasgow.

Quando aquele garoto foi arrebatado pela androginia de Marc Bolan e David Bowie, nos disco Alladin Sane e Electric Warrior, e posteriormente foi atingido pelo som dos Pistols, do Clash e do The Jam. Mas também curtia o Deep Purple ou Thin Lizzy. Esse jovem estava em busca de música e atitude.

O já inquieto Bobby, começou mostrando serviço numa banda de pós Punk, chamada de The Wake, no começo dos anos 80, logo depois ele foi chamado pro Jesus and Mary Chain, já naquele período Bobby criou o Primal Scream, com amigos de infância, e nome se originava da Teoria do Grito Primal, do psicólogo/psicoterapeuta norte-americano Arthur Janov.

Não era á toa que as drogas rodeavam o convívio do grupo, a ligação com o estilo musical que muito se aderia aos entorpecentes, desde início da trajetória, desde cocaína á diversas "anfetaminas", o Primal Scream gostava muito desse mundo dos estimulantes. O que fez Bobby repensar anos adiante, sobre sua dependência química.

Na época do Riot City Blues, Bobby se casou com a estilista Katy England, o que muito colaborou pra que tanto ele quanto a banda andassem na estica ainda mais, com influências de roupas dos anos 60, ternos bem cortados, gravatas coloridas e sapatos de glamour. Ou seja, o Primal não era só música, era estilo e música.

Desde sua lisérgica capa, Screamadelica tinha pérolas como Movin' on Up, Loaded, Higher Than The Sun, Come Together, apenas pra citar o quão poderoso era esse disco, em pleno ano de 91. Loaded, que no seu sampler tinha a voz de Peter Fonda, do filme The Wild Angels, clássico filme de Roger Corman, lançado em 1966, e ícone da contracultura. O Primal Scream foi catapultado aos holofotes das grandes massas.

Em 1994, Give Out But Don't Give Up, traz a banda pra um lado mais tradicional e diríamos até que mais "rockeiro", pois se o The Black Crowes tinha feito Remedy, no disco The Southern Harmony and Musical Companion, o Primal Scream fez Rocks e Jailbird. Com a mente trabalhando frequentemente, Bobby, foi atrás do que viria a ser o Vanishing Point, o quinto disco da banda, lançado em 1997.

E se no anterior eles teriam virado a cara pro sucesso e pro lado eletrônico, no Vanishing Point eles tentar voltar pro lado "eletro", abusando de efeitos, e trazem pro disco Glen Matlock pra tocar em Medication. Trouxeram Augustus Pablo, o mestre do Reggae/Dub pra tocar em Star, além de fazerem uma versão bem "torta" de Motörhead de Lemmy Kilmister. O álbum vem inspirado no filme Corrida Contra o Destino (Vanishing Point), onde seu principal personagem, Kowalski, um veterano do Vietnã que é adicto de metanfetaminas e precisa levar um carregamento de drogas do Colorado até a Califórnia, e ali acontecem coisas que até Deus duvida.

Bobby assistiu ao fim dos anos 90, e que explodissem grupos como The Chemical Brothers, Underworld, The Crystal Method, Orbital, despontarem no cenário eletrônico. E no começo do novo milênio a mente engenhosa de Gillespie não parava e ele fez XTRMNTR, que na nossa humilde opinião foi um dos melhores álbuns da época, um disco que se dava ao luxo de ter canções como:

Kill All Hippies, Swastika Eyes, Accelerator, Exterminator, Shoot Speed/Kill King, um disco de peso do início ao fim.

Evil Heat, deu as caras em 2002, e trouxe a modelo Kate Moss pra cantar junto, e gerou jóias como Miss Lúcifer, City, Some Velvet Morning. Se tornando já o seu segundo melhor disco dos anos 2000, disputando lado a lado com Riot City Blues de 2006, que tinha faixas icônicas como Country Girl e Dolls, e apontava pra um Rock N' Roll sem frescuras.

Quando tudo se dava como perdido, Bobby foi novamente persistente e nos presenteou com o disco Go Ahead, lançado no final de 2024, o que demonstra que a banda ainda consegue lançar bons discos e se manter relevante no cenário atual.

Esta será a quinta passagem do Primal Scream pelo Brasil, e pra quem ainda não conferiu de perto, talvez seja uma das mais belas oportunidades, já que a banda também está escalada pra abertura (Opening Act), do Fauna Primavera Fest, no Chile, no dia 06/11, no Teatro Coliseo, e na Argentina no festival Music Wins, em Buenos Aires, no dia 02/11. Um show que se torna imperdível neste ano de 2025!

Foto destaque: Mark Diggins & Foto Matéria: Roberto Finizio

A produção é novamente da imparável Balaclava Records, que havia realizado o show deles em 2018, e da Music On, agora o show ocorre na terça feira, dia 11/11, na casa de shows Audio Club, localizada na Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, São Paulo.

Ingressos: https://www.ticketmaster.com.br/event/primal-scream-sao-paulo

Após o sucesso do disco Psychocandy, do Jesus and Mary Chain, onde Bobby era o baterista , ele pulou do barco, e o que bombava naquele momento eram as "raves", festas regradas á muitas drogas e música eletrônica, tocando horas a fio. A mistura de música eletrônica com pitadas de rock, foi que Manchester, localizado ao noroeste da Inglaterra, ficou "glamourizada", pelo título de Madchester, pois teve um impacto profundo no cenário dando origem a nomes como The Stone Roses, Happy Mondays, mas uma das bandas mais seminais desse tal movimento era o Primal Scream que corria por fora, por serem de Glasgow (Escócia), mas a aliança criada musicalmente os colocou na mesma gaveta das bandas citadas.

A estréia foi algo de voar o capacete, e foi no Sonic Flower Groove, que Bobby juntou um time da pesada pra ir a fundo nas suas influências dos Byrds, Velvet Underground e refletir num álbum "diferente". No álbum homônimo, de 1989, ele já queria provar outros sabores musicais e vieram novidades na sonoridade. Novamente eles se aliaram á Alan McGee, o monstro da Creation Records e lançou o fervoroso Screamadelica, e esse disco decolou como um foguete interplanetário, o álbum gerou uma proximidade com a nova crítica musical que abraçava o tal movimento "eletrônico".

Só que num ano (1991), em que o R.E.M., despontou com o Out Of Time, o Guns N' Roses entregou ao mundo o Use Your Illusion l & ll, o Metallica lançaria o Black Album, o grunge dava ao planeta o Ten do Pearl Jam, os desvairados do Red Hot Chili Peppers ecoavam com Blood Sugar Sex Magic, e o Nirvana soltava sua bomba "napalm", que destruiria tudo que houvesse no cenário mundial, desbancando o espalhafatoso Dangerous de Michael Jackson ou o Achtung Baby dos irlandeses do U2, com todos esses lançamentos acabaram ofuscando o Primal Scream, e naturalmente muitas outras bandas, mas o que era trilha sonora nas discotecas ao redor do mundo, era o som promovido por essa geração que mesclava o rock ao som eletrônico, ou simplesmente Acid House.