Os Paralamas do Sucesso: engrenagens afinadas

Atibaia 24/06/2024

RESENHA

Texto- Fotos por German Martinez

7/1/20245 min read

E cá estávamos pra conferir a quinta atração do aniversário da cidade de Atibaia, a comemoração era em prol dos 359 anos da cidade. Entre artistas dos mais variados estilos, o público que se identificava com o rock, logo ficou feliz de que a última noite seria com os Paralamas.

Uma banda com uma trajetória invejável, com álbuns clássicos já enraizados na memória cultural do país, turnês pela América Latina, parcerias com grandiosos artistas e destreza de manter uma formação "irretocável" há mais de 4 décadas. Tais fatos não são pra qualquer um, e o que se veria naquela noite, era uma instituição do Rock Nacional.

E como é sintetizar uma carreira tão longínqua em pouco mais de uma hora e meia de apresentação? Difícil, já que o trio possui um punhado de "hits" que revelam tal importância da banda pro brasileiro.

A abertura fica a cargo da introdução ao clássico do The Who, "Baba O' Riley", que serviu de tapete pra deixarem os músicos se agruparem no palco e executarem o seu primeiro sucesso nacional, "Vital e sua moto". O que viria adiante nada mais era uma linha do tempo que mesclava as melhores canções da banda e que nunca foram poucas.

"Cinema mudo" e "Ska", trouxeram toda a influência da música jamaicana que a banda se aprofundou nos anos 80. Era hora de "bailar" e umas das faixas mais populares era tocada, "Lourinha Bombril", hit instantâneo dos tempos áureos de MTV teve seu espaço no vasto repertório da banda. A parceria com Fito Paez em "Trac Trac", apenas reforçou a relevância gigantesca que os Paralamas sempre deram aos metais dentro da banda, sendo um show á parte nesta canção. Trazendo um peso e uma crítica fortíssima numa canção dos anos 2000, "O Calibre". Indo para o clássico absoluto do trio, incluído nas melhores listas de crítica, a canção "Selvagem", aparecia para fazer jus ao álbum homônimo. Como numa espécie de "Medley", Herbert emendou versos de "Polícia", dos amigos de longa data: os Titãs.

O romantismo de Herbert estampado na canção ”Cuide bem do seu amor “. Migrando para o belíssimo mas muitas vezes renegado "Nove Luas', o momento foi da linda melodia e letra de 'Tendo a lua', uma das melhores canções do grupo, sem sombra de dúvidas. "Aonde quer que eu vá', deu uma segurada nas canções mais politizadas do grupo, então era hora de unir os corações mais apaixonados no recinto, a bela tradução de amor que Herbert escreveu para Lucy, sua esposa falecida no acidente aéreo de 2001. Ele descreve de como se dedicar ao amor acima de tudo.

Como já não bastasse essa sequência de 4 canções implacáveis da banda, o trio emendou o megahit "Lanterna dos Afogados', com um público completamente emocionado. O álbum "Hey Na Na', também compareceu no setlist com a faixa "O amor não sabe esperar', parceria de Herbert com Marisa Monte. "La Bella Luna', dá espaço pra Herbert brincar com acordes na guitarra, registrando uma canção anos 90 da banda.

Com Herbert visivelmente feliz pelo momento vivido, o próprio trouxe 'Você (Gostava tanto de você) do gênio Tim Maia, que já havia sido eternizado no álbum ao vivo "Vamo Batê Lata'. E se até o momento não havíamos citado a "cozinha" dos Paralamas, esse era o momento justo, literalmente é chover no molhado. O que Bi Ribeiro e João Barone executam no palco é algo transcendental, a qualidade do material que criaram e da evolução contínua que a banda teve nestes mais de 40 anos. "O Beco', do exemplar disco Bora Bora, de 1988, comprova o que os metais aliados á cozinha são capazes de fazer.

Seguindo pelas homenagens e parcerias, Herbert força a mente dos espectadores pra introduzir 'A novidade', de Gilberto Gil. De volta á Jamaica, "Alagados', nos fazia voltar ao clipe ambientado no Complexo da Maré no Rio de Janeiro e exibe a crítica social da forma desumana vividas nas favelas citadas na canção de meados dos anos 80.

Com o hit radiofônico "Uma brasileira", e mais uma parceria desta vez canção que explodiu ao lado de Djavan, pôs o público novamente pra dançar. Com um possível clima de despedida, Herbert agradecia toda a empolgação do público desde a primeira canção, pra destilar "Óculos', uma das canções que simbolizou a perfomance no primeiro Rock in Rio no país.

Era óbvio que o público queria mais, e sem pestanejar Herbert e cia voltaram pro "bis". Com mais uma canção com viés político e sarcástico, "Perplexo", agitou a saideira. A cativante "Caleidoscópio", fez que o público voltasse no tempo. E pra voltar lá atrás com um dos seus maiores sucessos, quiçá o maior, que fazia parte do emblemático "O Passo do Lui'. "Meu Erro", foi ovacionada do começo ao fim.

Foram 90 minutos de uma das bandas mais fundamentais do rock nacional e sul-americano, um trio que nunca se separou, superou todas e piores fases de cada integrante, sempre com a sagacidade de produzirem boas canções aos ouvidos e ao coração. Vida longa aos Paralamas.