Refused, estão realmente mortos?

Quarteto sueco quebra o jejum e viaja pela primeira vez pra América do Sul

NOTÍCIAS

German Martinez

7/17/20256 min read

Não há como falar sobre o Refused, sem falar na cabeça pensante do grupo que é Dennis Lixzén, nascido em Umëa, na parte norte do país e há cerca de 7 horas de viagem da capital Estocolmo, mesma cidade que revelou os monstros do Meshuggah. Fruto dos anos 70, Lixzén já no início da década já demonstrou tal interesse pela veia política e musical.

Quando ainda estava no Step Forward, ele conheceu David Sandström, e acabou juntando seus ideais ao lado dele na bateria, Jonas Lindgren no baixo, e Pär Hansson, na guitarra, que logo dariam espaço pra Kristoffer Steen e Magnus Flagge, e a segunda guitarra de Jonas Sandström. Dando origem ao Refused, nos primeiros anos, os moldes ainda eram o hardcore/punk básico, e incorporando um som mais agressivo e primitivo, logo se distanciando de bandas mais melódicas ou que apenas reproduziam o estilo norte-americano da época, que já possuíam seguidores na cena sueca.

O Refused corria por fora no cenário local, fazendo um som distinto e levantando a bandeira de problemas sócio- políticos e comportamentais, ou seja, se uns se aproximavam pelo estilo tocado ou outros se afastavam pelo postura agressiva ideológica, levando uma ruptura de ideais por parte do público que os passava a acompanhar. Quebrando todos os estereótipos desde suas demos, mas foi em This Just Might Be The Truth, a estréia, que o grupo apontava da forma que queria ecoar nos alto falantes.

Assinando assim com a Victory Records, de Chicago, EUA. O grupo gravou o segundo disco Songs To Fan The Flames Of Discontent, e alguns EP's e se aproximou talvez mais do metalcore e viu bandas como Earth Crisis, trazendo temas como o veganismo e a proteção animal. E se haviam bandas com ternos elegantes e cortados á rigor como o The Hives, o Refused, usava a estética dos suéters, e calças impecáveis. Trazendo assim um desconforto pra um cenário que se apropriava do visual do skate ou das regatas nova- iorquinas.

Segundo a banda, um dos alicerces de inspiração veio dos norte americanos do Nation Of Ulysses, o quarteto formado em Washington DC, e que faziam parte da Dischord Records, que flertava com o jazz em meados dos anos 80, e que empunhava seus ideais contra a cultura das drogas no cenário e seu confronto político, e por outro lado, o Snapcase serviu de referência de como fazer um som agressivo pra uma nova safra, uma juventude sedenta por uma sonoridade inédita.

Na época selos como a Bad Afro Records, apoiava bandas como The Hellacopters, Turbonegro, The Royal Beat Conspiracy, The Flaming Sideburns, lançando singles, compilações e ajudando a fomentar o cenário que só aumentava ali nos anos 90. Por outro lado Brett Gurewitz, dono do selo Epitaph Records, e um dos fundadores do Bad Religion, se aliou ao selo sueco Burning Heart Records, fazendo assim uma conexão gigantesca com a nova leva de bandas, principalmente suecas, por lá passaram bandas como The Hives, No Fun At All, Millencolin, entre tantas outras.

Pra alguns integrantes do grupo a gravação do terceiro disco já era uma despedida, após o fim desse processo, a banda decidiu ir aos Estados Unidos. Se tudo que havia sido construído na Suécia, com o que foi visto e vivido na última turnê nos EUA, tudo viria a se dissipar, com algumas datas marcadas em terras yankees, o grupo acreditou que viveria momentos épicos, mas foi totalmente o contrário, após vários shows fracassados, o derradeiro seria em Harrisonburg, na Virgínia. Num sótão, e que com um pouco mais de 30/40 jovens, o Refused fez ali sua terrível despedida dos palcos, tendo seu show invadido por policiais que desligaram seus equipamentos, e que não permitiram que finalizassem Rather Be Dead, o que seria sua última faixa tocada da sua curta vida como banda. Após esse momento deprimente, que se tornou sucessivo na turnê norte americana, a banda implodiu, desaparecendo por 14 anos.

O disco The Shape Of Punk To Come, em seu título fazia referência á Ornete Coleman, mestre do jazz, e também se inspirou numa das faixas do Nation Of Ulysses, The Sound Of Jazz To Come, pro título, eles foram ainda maís instigados a botar o dedo na ferida do cenário, traduzido ao português, é literalmente, que o punk podia sim cruzar as fronteiras estéticas musicais, não ficar "esteriotipado" pra sempre dentro de uma bolha. A palavra era revolucionar o que fosse possível.

O álbum é como um programa de rádio do início ao fim, cheio de interlúdios entre as faixas, que passeiam desde o som eletrônico, o jazz, spoken word. A capa veio de uma inspiração da banda Rye And The Coalition, que também havia se inspirado de um artista dos anos 60.

Foi com esse clima de "Post Mortem", que como uma ironia do destino, que a MTV, um dos veículos mais criticados pela banda, começou a espalhar pela programação o videoclipe de New Noise, o single do álbum, causando um frisson, mesmo que tardio e fazendo com que mais pessoas chegassem ao som do grupo. Já que o disco teve uma venda irrisória de menos de 1.500 cópias na época.

A obra prima do grupo The Shape Of Punk To Come, nasceria meses do fim da banda, e quando todo mundo se deu por si, eles tinham sumido, o disco foi uma quebra de barreiras em todos os sentidos, mas aparentemente no momento não ocorreu tal comoção, e passou a ter mais relevância anos depois quando chegou a bater a vendagem de mais de 180.000 cópias.

Em alguns momentos os próprios integrantes do Refused, se viram diante do monstro que haviam criado com principalmente com o The Shape Of Punk To Come, bandas que nada se assimilavam os citavam como referência, e tendo suas canções versionadas. Dentro do espectro das influências, Mike Shinoda do Linkin Park, cita o disco como fundamental pra existência de sua banda, e uma referência direta pra confecção do álbum Hybrid Theory, de 2000. Chegando mais profundamente no cenário alternativo, bandas como At The Drive In, GlassJaw, ou La Dispute, pegaram grandes referências da banda. Segundo Tom Morello, numa conversa com Rick Rubin, se seguiriam com o Rage Against The Machine, Tom afirma que cogitou Dennis, como vocalista pra banda. Rumores e notícias á parte, mas o Refused sumiu do mapa, a obra ficou, mas os músicos não se juntariam mais.

Foi por volta de 2001, que a Burning Heart Records, lançou o compilado em DVD, Hang The Vj, e aqui no país, foi uma porta aberta pra todo um cenário que mal sabíamos que existia. Ali se pôde ver bandas em ascensão como as já citadas do selo, e grandes novidades como o Ska Punk do Chickenpox, ou punk rock do The Bombshell Rocks, e a nova banda de Dennis, o The International Noise Conspiracy, que na época teve seu disco A New Morning (Changing Weather), lançado no Brasil. Neste registro pudemos ver os clipes de New Noise, Rather Be Dead, Hate Breed Hate, Pump The Brakes.

Dennis, seguia firme com o The International Noise Conspiracy, e logo daria atenção a mais um projeto, o espetacular INVSN (Invasion), um post punk inebriante, formado por maís 4 integrantes, e que lançaram grandes discos no decorrer do tempo. Em 2008, Dennis se alia a Karl Backman, e monta o AC4, uma banda que lança alguns trabalhos. Logo depois Dennis montou o Final Exit e o restante do grupo montou o Text.

A banda participou do projeto Cyberpunk, usando um nome fictício de Samurai. Tiveram participação em jogos como Tony Hawk's Pro Skater, Doom, e também trilha no filme Crank com Jason Statham.

Após inúmeros convites, o Refused se rendeu em 2012, passando por festivais de renome como Coachella e Hellfest. Brigas e disputas de ego foram deixadas de lado, e a banda foi se aventurar na estrada, e gravou o quarto álbum Freedom, lançado em 2015, que logo foi considerado um dos melhores álbuns do ano e consequentemente uma das melhores voltas em formato disco gráfico de uma banda, após anos afastados, e que conta com um punhado de boas canções como Elektra, Servants of Death e War on The Palaces, que acabou rendendo uma indicação ao Grammy. Quatro anos depois foi a vez, do quinto álbum, War Music, seguido do EP Malignant Fire, em 2020.

Ali por volta de 2016, houveram muitos rumores que a banda que viria ao Brasil, já que ela havia ido ao Riot Fest, e estaria perto do nosso continente, mas foi um ledo engano.

Agora em 2025, a banda anunciou que realmente será sua última turnê, e intitulada de Refused Are Fucking Dead, parafraseando uma das suas canções e também do documentário da banda, a turnê passará pela América do Sul, contando com países como Argentina, Chile e Brasil.

Fotos por Tim Tronckoe

A apresentação no Brasil será única e é produzida pela Balaclava Records e Powerline, e será no Terra SP, dia 31/10.

Os ingressos já estão á venda

https://fastix.com.br/events/refused-em-sao-paulo