Russian Circles: uma locomotiva desenfreada de peso
Os norte-americanos aportam pela primeira vez no país
RESENHA
Texto: German Martinez Fotos: André Astro
4/9/20244 min read
Anunciados como uma uma grande expectativa desde o fim de 2023, o trio de Chicago (Illinois) causou um frisson em aficcionados pelo estilo do "Post Metal" e também gerou curiosidade em muitos outros.
Vindos de um cenário altamente criativo que teve bandas como Isis, Pelican, Explosions in The Sky, Cult of Luna, Botch entre tantas outras. O Russian Circles é destaque entre as mídias especializadas há anos, e possui uma discografia muito elogiada. O motivo da vinda ao país era a divulgação do mais recente disco e diríamos "pós pandemia", o intitulado "Gnosis". Mas de forma totalmente acertiva a banda optou por escolher faixas de toda sua obra em seus 20 anos de trajetória, mas o repertório passou batido por discos como "Enter" e "Geneva", mas em que nada apagou o brilho da perfomance.
A banda convidada pra abertura foram os paulistanos do E a terra nunca me pareceu tão distante, o quarteto fez com todo louvor uma perfomance á altura. Explorando o seu mais recente EP "Linguagem", o quarteto foi da calmaria a pontos de grande empolgação de todos os integrantes. Era a nítida o quão feliz a banda estava naquele momento.
A banda que não sabia se continuaria devido a mudança de país de seu baixista, em nada eles decepcionaram com a presença de Gabriel Arbex do Dozaj. Uma hora de apresentação foi o suficiente pra que muitos elogiassem cada vez mais a categoria do grupo.
Sem a pompa de roadies, o Russian Circles subiu ao palco pra dar os últimos ajustes às suas configurações. Com um campo maior de palco do que a banda de abertura, obviamente pela logística do evento, logo as belas guitarras de Mike Sullivan foram colocadas ao lado do palco pra dar o pontapé inicial. Enquanto Brian dedilhava seus sintetizadores e Dave alinhava a "batera".
Com a introdução de "Ghost on High", o grupo se realocou no palco e foi ovacionado, enquanto esboçavam sorrisos tímidos de agradecimento e felicidade. Ao contrário do que era ao início do show, o público que ainda era tímido na rua do Cine Jóia, o que se via ali no momento, era um público realmente interessado e haviam tomado todos os cantos da casa de shows.
Tudo certo entre eles, e o que se ouviu foi a introdução da dilacerante "Station", canção clássica de seu setlist que faz parte do disco homônimo. Enquanto esse "punch" do trio era disparado de cima do palco, a brutalidade do som era como algo te empurrando pro fundo do lugar devido ao peso que se sentia.
Uma das nossas favoritas e aguardadas, era a belíssima "Harper Lewis" e mostrou que a banda não estava pra brincadeira. Brian Cook ao canto esquerdo do palco, que facilmente poderia ser confundido com Neil Fallon, vocalista do Clutch. Pra quem se apega ao lado mais técnico percebe o quão impecável é o trabalho que Mike faz, utilizando uma pedaleira "monstruosa" onde é capaz de ir do Shoegaze ao Black Metal, devida à tamanha variedade de efeitos que o rapaz executa.
Dando abordagem ao disco "Guidance", escolheram "Afrika" pra representar no setlist. Na sequência a destruidora "Quartered", onde o "riff" dita um bate cabeça até pros mais atônitos.
Com Dave ao fundo e dando tudo de si, entre efeitos de luzes que permearam toda a apresentação, o tom dramático era representado nas cores que brilhavam sob o palco. "Conduit" uma das melhores canções do grupo trouxe de novo um respiro aliviado dos fãs ao redor do Cine Jóia.
Veio a dobradinha brutal com "Betrayal" e "Gnosis" ambas do último álbum da banda. Entre o peso de uma e calma de outra, até a própria banda respirava um pouco.
A angustiante "Defícit" fez o trio baixar rotações do show pra um lado mais introspectivo, única faixa tocada do álbum "Memorial". A perfomance já ultrapassava mais de uma hora quando chegou a hora de "Youngblood" talvez a mais bem quista por grande parte dos presentes.
O show já apontava pro seu fim, e a escolhida foi "Mlàdek" de Emptos, também a única executada deste registro. O que foi visto foi um sorriso no rosto de quem teve oportunidade de ver uma das bandas mais criativas das últimas décadas pisando pela primeira vez no Brasil.
Uma noite pesada e inesquecível, fica aqui nossa expectativa pra que outras bandas desse "círculo" venham ao país como ocorreu com o Russian Circles.