Supergrass reverencia os anos 90, em noite nostálgica em São Paulo
Com data única no país, o quarteto passou pela capital paulista no último domingo 31/08
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Texto German Martinez - Fotos Raíssa Corrêa
9/3/20257 min read


Essa história não pode simplesmente ser contada do momento presente, e sim lá no começo dos anos 90, quando três garotos de Oxford, que queriam tocar rock n' roll, com a simplicidade dos Beatles e com a sagacidade dos Stones, The Who ou The Kinks, o Supergrass se formou, em meio a um "fuzuê" de bandas, e um novo cenário que pipocava naquele momento, e eles acharam espaço nessa prateleira.
Após a efetivação de uma banda de verdade, mesmo que pra um trio de jovens com idades cerca de 17/18 anos, se tornou prioridade e foi em 1995, no auge de lançamentos do então Britpop, o Supergrass "pegou carona nesse cometa", I Should Coco, a estréia, lançada pela Parlophone Records, que tinha no currículo álbuns dos Beatles, atiçou público e crítica, e trouxe canções como She's So Loose, Lose It, Alright, Lenny, Mansize Rooster, entre tantas outras.
Como uma obra do destino, os caras vieram pro Brasil no auge do Britpop, em 1996, eles foram ao Rio de Janeiro e pra São Paulo, pra dividir palco com Smashing Pumpkins e The Cure, no finado Hollywood Rock. A banda não parou, e lançou em 2002, o aclamado Life On Other Planets, e mais adiante Road To Ruen, 2005. Mas acontece que em 2006, o festival Campari Rock, que havia escalado MC5, Objeto Amarelo, Muzzarellas, pra 2005, escolheu que no próximo ano, o festival fosse feito em Atibaia.
Diante de um clima de interior e um lamaçal que se tornou a Estância Hípica Atibaia, que foi a sede do evento, fez daquele, não muito dos mais interessantes pra muitos, mas garantiu que bandas como: Nação Zumbi, Cachorro Grande, Ira!, e Mission Of Burma, dividissem palco com os ingleses, que eram os reis da noite. Após um dia bem estranho climaticamente, na hora do Supergrass, a chuva caiu, e espantou muita gente daquele lugar. A banda saiu do palco sem tocar Alright, um fato que é discutido por todos até hoje.
Mas porque falamos tudo isso? Pra contextualizar que depois de 2 shows no país, sendo eles em festivais, o primeiro com um intervalo de 29 anos e o segundo 19 anos, muita gente sequer sabia que eles tinham vindo ao Brasil. E que 2025 seria pra comemorar as 3 décadas de lançamento do I Should Coco.
E como não gostamos de perder detalhes, ficamos atentos aos shows do Chile e Argentina, que antecederam a data na capital paulista. Realizado no já "cultuado" Terra SP, na região sul da cidade, numa boa localização e com uma capacidade razoável pra receber mais de 3000 fãs da banda. O público ainda tímido nas imediações, logo foi sendo tomado pela energia dos ambulantes que vendiam camisetas "não-oficiais" por toda rua.
Disputando espaço com as barracas de lanche e com "mercado negro dos alimentos perecíveis", pra entrada social.






Marcado pra abertura das portas às 18:00, e foi cumprido. De cara, tudo estava pronto pra recepcionar o mago da guitarra invertida Edgard Scandurra, e como explicar a importância de um guitarrista do calibre dele, um cara que mudou todo conceito de tocar com a mão esquerda, de proferir timbres jamais vistos no Rock Nacional, e do seu potencial como letrista de mão cheia, criador de bandas seminais no cenário paulistano e muito mais, que não caberiam neste texto adjetivos.
Curiosamente, Edgard também havia dividido palco com os ingleses em 2006, só que naquela oportunidade com sua banda Ira!. O fato desta vez, era que ele juntou seu filho Daniel e Rodrigo Saldanha, também integrante do Bufo Borealis, pra desfilarem canções "lado B" do Ira! e também da sua carreira solo.
Abrindo com a influência de Paul Weller do The Jam, tocaram Ninguém Entende um mod, da estreia Mudança de Comportamento de 1985. Minha Mente Ainda É A Mesma, figurou no repertório, e relembrou o clássico Amigos Invisíveis de Scandurra, de 1989.
O mesmo já antecipava que seriam canções dedicadas ao estilo Mod, e Nas Ruas, veio como uma bomba Napalm, relembrando a caótica São Paulo, nos tempos do disco Vivendo e Não Aprendendo. Prisão das Ruas, uma outra obra prima da banda de Edgard, Gaspa, André e Nasi, se referiam á metrópole e a boêmia da cidade de São Paulo, no emblemático Meninos da Rua Paulo.






A pesada e ritmada Como Os Ponteiros de um Relógio, também se fez presente. Talvez a mais popular do repertório, mas também uma das canções mais curtas da história do Ira!, Flores Em Você, teve seu devido valor no show. A despedida seria com um dos maiores clássicos do Rock Brazuca, a anti-militarista Núcleo Base, que ainda soa tão atual pros dias de hoje.
Ovacionados, eles acabaram voltando pra tocar Do Chão Não Passa, do álbum Amor Incondicional.
Entre música "mecânica" tocando, as luzes se apagaram e foi aí que surgiram ainda sob sombras Gaz Coombes, Rob Coombes, Danny Goffey e Mick Quinn, onde o povo foi ao delírio sob o fundo de palco com a capa do icônico I Should Coco.
Entre gritos e berros, I'D like To Know foi o cartão de visita, ainda que fosse pra ir ajustando o som, e sem muita firula Caught By The Fuzz. Com uma simpatia "bem" mais apurada que em 2006, Gaz, começou a interagir com a platéia, e logo despejou Mansize Rooster. 3 faixas e sem respiro.




Foi aí que fomos surpreendidos, se em outras ocasiões noutros países, eles haviam tocado as 13 canções do I Should Coco numa pegada só, aqui eles mudaram, e Late in The Day, do In It For The Money. Entre agradecimentos ao público, pela ausência de todos estes anos, e da alegria de tocar o citado álbum, Gaz presenteou os fãs com a graciosa e implacável Mary, com toda sua malemolência e uma das melhores canções do espólio do Supergrass.
Voltamos ao álbum, em She's So Loose, particularmente uma das melhores do show, com o público empolgado desde o início. O que falar da energia de Lose It? Mais uma pérola do I Should Coco. A cômica e quase vinheta, We're Not Supossed To. Time, com seu blues safado, e que no subconsciente trouxe as imagens em P/B do clipe, que davam brilho ás costeletas de Gaz Coombes. O hino de uma juventude "sônica", Alright, desta vez foi tocado. Muitos sentiriam falta de mais faixas de outros álbuns como o In It For The The Money ou o homônimo de 1999, mas sinceramente, foi assertivo tal repertório.
Mas uma sequência brilhante veio com Strange Ones, urgentíssima como seu ritmo, e a quase The Kinks em Sitting Up Straight. O baixo marcante de Danny, mostrava a introdução de Lenny, de modo frenético. Sofa (Of My Lethargy), trouxe Charly Coombes, o irmão mais novo da família que mora no Brasil, como convidado especial.
O violão de Time To Go, propiciou o momento de baixar a luz e deixar o som rolar. Desde Diamond Hoo Ha, de 2008, sem lançar material inédito, o Supergrass foi buscar a maravilhosa St Petersburg, do disco Road To Ruen, com seu clima perfeito do teclado de Rob, e seu apelo ao folk, foi brilhante. Quem disse que o rock não ia comer solto? E comeu, em Richard lll.






Enquanto Gaz, falava da próxima canção que seria a imbatível Moving, alguém gritava por Grace, ele disse pra se acalmar que rolaria, mas era pra esperar. Grace apareceu no repertório e deve ter sido escolhida á dedo pra fechar o set principal. Pois ali, os fãs estavam em êxtase. Numa saída e volta rápida, o telão exibiu uma animação da turnê com desenhos dos integrantes, e se despediram com Sun Hits The Sky e com a unânime Pumping On Your Stereo.






Não eram 22:00 e o show havia se encerrado, já que grande parte do público (assim como nós), estavam numa faixa etária que quer voltar pro conforto das nossas casas, foi ainda mais positivo, ponto mais uma vez pra Balaclava que vem acertando em cheio em suas apostas, e se você acha pouco, temos pela frente, Primal Scream, o festival com Stereolab e Yo La Tengo, e vários outros. Aguardamos ansiosamente!