Teenage Fanclub, a ternura escocesa

Quinteto fez segundo show pelo Brasil, pra uma casa cheia em São Paulo, nesta quinta feira (04/09)

Texto German Martinez - Fotos Flavio Santiago (On Stage)

9/6/20255 min read

O mês de setembro adentrou com um clima mais ameno, provocando que os fãs do Teenage pudessem usar suas camisetas da banda, nas cercanias do Cine Jóia, localizado nas imediações do bairro Liberdade, a casa tem acolhido bons shows e tem uma vista panorâmica pra deleite de seus espectadores.

Não haveria banda de abertura, então a DJ Flávia Durante foi responsável pelo aquecimento musical do evento, até que os escoceses adentrassem ao recinto. E como é bom ter compromisso com os horários, coisa que não é muito comum com algumas produtoras no Brasil, independente do calibre do artista, já passamos por alguns apuros pelo descaso desse fator, mas neste caso não. Com a equipe ajustando tudo antes do horário especulado, foi justamente as 21:00, que Norman Blake, Raymond McGinley, Francis McDonald, Dave Mcgowan, Euros Child subiram ao palco do Cine Jóia.

Como não lembrar daqueles 4 garotos no início da década de 90, fazendo um som tão "incomum" pra época, ou diríamos na contramão de muita coisa que estava rolando, mas o contraponto pra tudo isso, o Teenage tinha um bom gosto pelas melodias, por ter vocais que conversavam entre si, aliados a um trabalho de "cozinha" imprescindível. Quem não vibrava com os clipes de de What You Do To Me na MTV, aquela estética do preto e branco, mostrando de qual forma eles queriam soar, ora pesados, ora leves. Ou na sublime The Concept, com seu registro de rebeldia.

Só que ali, todos os integrantes estavam na casa dos 30 anos de idade, e o tempo meus amigos, ele é cruel e a mesmo tempo doce como o mel, naturalmente todos envelheceram e seus adeptos também (e obviamente nos incluímos nessa lista). Só que há um porém, poucas bandas seguem acreditando no seu trabalho, ou trazendo a sua fonte de espírito juvenil, e o Teenage ainda corrobora tudo isso, de como atravessar gerações tendo canções que são atemporais.

O que pudemos ver nesta noite na capital paulista, como testemunhas oculares, foi como a banda ainda consegue ser valorosa ao vivo, a preocupação de cada timbre, de cada nota pra que soe bem aos ouvidos. Mudando um pouco o setlist do Rio de Janeiro, abriram o show com Home. About You faria que os primeiros aplausos e gritos da noite viessem. Um dos diferenciais do Teenage é passear por sua discografia, e dando vazão a canções mais recentes como Endless Arcade, do album homônimo de 2021.

Foram buscar jóias brutas, ainda sendo lapidadas pelo tempo como Alcoholiday e I Don't Want Control Of You, a primeira do maravilhoso Bandwagonesque, de 1991, e a outra do Songs From Northern Britain. Embalados pela sinergia da platéia vieram faixas dissonantes como Everything Falling Is Apart, 120 Mins e Verisimilitude, esta com uma platéia fervorosa, quando se ouviam os primeiros acordes de qualquer canção do obrigatório Grand Prix, de 1995.

E se o lance é surpreender, o Teenage sabe fazer isso, e uma delas que quiçá pudéssemos cogitar era a perfeita Baby Lee, relembrando os tempos de Shadows, e na sequência It's A Bad World, num belo dueto de guitarras de Norman e Raymond.

Mesmo sem Gerard Love, que faz muita falta, porque era simplesmente o compositor e intérprete de belíssimas canções da banda, que poderiam estar facilmente no repertório, mas que por algum motivo, já não condizem com o momento atual da banda, já que Love saiu do grupo há 7 anos. Bem, Dave Mcgowan assume o posto de dar as notas graves e se entrosar ininterruptamente com Francis, fazendo uma cama luxuosa pros acordes flutuantes de Norman e Raymond que assumem a dupla de ataque do Teenage.

Segundos de What You Do To Me, já levam o público ao delírio, ao que se pôde ver pelo mezanino e pista, era que o Cine Jóia estava tomado, que áurea dos anos 90 havia se escorado nessa noite na capital paulista. Quem diria que See The Light, seria executada, e brilhantemente como sempre soou aos ouvidos. Um disparo pro Grand Prix novamente, e surgiu a inebriante Neil Jung, com o povo fazendo sua função de backing vocal, destaque para operador de mesa de som, que fez um trabalho impecável desde o princípio, dando veracidade pra partes peculiares da batera de Francis e pra que Norman pudesse interagir com a platéia entre seus riffs de guitarra.

A trinca final era de arrepiar até última vértebra, I'm in Love, My Uptight Life, e The Concept, uma das canções mais perfeitas da geração dos anos 90, dignas de elogios de Kurt Cobain. Esse era o fim, mas o que já sabíamos é que a banda voltaria, mediante aplausos e gritos.

Voltaram e nos presentearam com God Know It's True e Falling Into the Sun. E quem diria, que Mellow Doubt viria á tona, lindíssima numa interpretação impecável, e pra despedida, sim, pois tudo deve acabar e acabar bem, foi um momento arrebatador com a fantástica Everything Flows, o primeiro clássico da história do grupo, lançado em 1990.

Não estivemos presentes nas últimas apresentações do grupo no Brasil, mas esta perfomance foi de uma valia gigantesca. Após show de bandas como: Travis, Richard Ashcroft, Supergrass (dias antes), e agora o Teenage, se comprova que a fagulha do Britpop segue acesa, e por mais que você não more no Reino Unido, a caótica São Paulo segue sendo uma boa pedida quando o assunto é música vinda de lá.