A fria noite de inverno em Jundiaí tornou-se muito quente, ao menos no ginásio do Sesc, durante a véspera de feriado municipal, na quinta-feira (14), onde as bandas Test mais a Deaf Kids e os Ratos de Porão, aqueceram corações e mentes de um público muito bom que compareceu para apreciar as apresentações das bandas.

A junção das bandas Deaf Kids com a Test foi algo que deixou-me extasiado! Havia visto uma apresentação da Deaf em Bragança Paulista, antes da pandemia. A Test seria a novidade. Mas o que me chamou a atenção foi vê-las juntas no mesmo palco.

Dois guitarristas, dois bateristas ao mesmo tempo, com muita percussão, que juntos faziam um som noise, industrial... não consigo encontrar rótulos para definir o som que foi apresentado pelo quarteto. Mas, além disso, havia muita percussão, atabaques, som eletrônico, guitarras distorcidas...

Em meio a todo esse “caos” sonoro, no mais do que bom sentido do termo, a apresentação pareceu-me mais um ritual, no qual os músicos passavam a impressão de que pretendiam invocar forças da natureza, com um som muito diferente de tudo o que eu havia ouvido até ali... em alguns momentos parecia um “Roots”, famoso disco da banda brasiliana Sepultura, só que de uma maneira ainda mais radical. Foi um baita show, daqueles que só sairão da memória quando essa deixar de funcionar.

RATOS

Após uma apresentação insana de Test/Deaf Kids, foi a vez da banda paulistana Ratos de Porão, com seus 44 anos de estrada subir ao palco. Eu havia visto o show deles há cerca de um mês, em julho, no Tendal da Lapa.

Mas como Ratos é para lá de clássico e uma das minhas bandas favoritas, até fiz curso de história sobre a obra deles, não poderia perder essa apresentação no “quintal de casa”.

E show do Ratos é diversão garantida e protestos contra a extrema direita também. João Gordo não poupou críticas entre uma canção e outra ao ex- presidente Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar, seu filho Eduardo, contra onetflix://apgovernador paulista Tarcísio de Freitas e a deputada Carla Zambelli, presa na Itália.

Dentro do repertório musical os caras mandaram sons atuais juntos com vários clássicos como “Amazônia nunca mais”, “Morrer”, “Beber até morrer”, entre muitos outros.

Algo que chamou atenção no início da apresentação foi o volume que estava baixo e logo na segunda canção o público reclamou e teve o pedido atendido, ou seja, o som ficou muito melhor. Houve ainda algumas falhas no microfone do Gordo que ele tirou de letra e com todo carisma passou por cima de problemas que sempre podem acontecer.

Ainda durante a apresentação João Gordo falou do tempo de banda, que ele está para completar 62 anos, sobre emagrecimento e as já citadas críticas à extrema-direita.

Outro ponto a ser destacado é o entrosamento que a banda tem no palco e como o guitarrista Jão merece ser chamado de mestre, sempre, pois o som que tira de sua guitarra e o carisma de palco são algo que precisamos citar sempre, afinal, ele começou tudo. Juninho, o baixista “voador”, junto com Boka, na bateria, fazem uma das cozinhas mais explosivas do punk/rock/hardcore/crossover do planeta, não à toda a banda está em turnê mundo afora.

Foi uma noite fria somente na parte externa do Sesc, pois em seu interior havia muito calor humano, pogos, rodas, guitarras ensandecidas e baterias sendo "espancadas” com muito vigor e dedicação. Foi uma linda noite de barulho em uma cidade que insiste em querer dormir cada vez mais cedo!

Ivan Gomes, 47, é produtor e apresentador do programa 3 Notas, que vai ao ar semanalmente pela Mutante Rádio e torcedor do Santos Futebol Clube, sua única virtude