UpFront Festival: reúne e celebra a chama do punk em sua diversas facetas

6 bandas se apresentaram no domingo dia 11/05, na capital paulista

NOTÍCIAS

Texto German Martinez - Fotos Tiago Rossi

5/20/20257 min read

A última edição do UPfront Festival tinha sido no mesmo Carioca Club no final de janeiro, e nele estavam escalados nomes como Roy Ellis, Skamoondongos, Maga Rude, Sapo Banjo, Inocentes. Depois desta edição, a próxima viria com o anúncio pesado da despedida dos palcos do The Exploited, ao lado dos norte americanos do Fang e dos garotos punks britânicos do The Chisel, o tempo passou e o Fang acabou saindo do line up. E acabou se fechando com os 2 nomes gringos, aliados ao Ratos de Porão, Escalpo, Urutu e Punho de Mahin.

Com uma movimentação ainda devagar nos arredores do Carioca Club, o Punho de Mahin foi logo de cara abrindo os trabalhos. O álbum Embate e Ancestralidade, de 2022, foi crucial pra apresentação, com seu punk explosivo contra o preconceito racial e machista.

A banda que assinou contrato com a Deck Disc, mostrou o porquê vem chamando atenção de muitos, graças ao seu posicionamento e obviamente estilo único dentro do cenário punk atual. Entre o Punho e o Urutu, os problemas técnicos eram visíveis, que foram aos poucos sendo ajustados.

Na sequência, os paulistanos do Urutu vieram com o seu caldeirão de influências e despejaram toda sua versatilidade. Através da guitarra de Felipe Nizuma, exibindo um instrumento preto e vermelho, usando e abusando de efeitos que tornavam a performance ainda mais lisérgica.

A cozinha composta por Thiago Babalu na bateria e Eduardo Vaz, no baixo, e com o vocal marcante e agonizante de Thiago Nascimento, era o som característico do Urutu. Destaque pra Casa Adormecida, Braços da morte.

Uma junção de amigos de vários cantos do país, era hora do Escalpo, ano passado nós tínhamos o show deles ao lado do Vio-lence & Exhorder, no Kool Metal Fest. E a banda é intensa ao vivo, a presença de Neri, que muito lembra o estilo Mike Muir do Suicidal Tendencies, com 2 guitarras que trazem um peso ainda maior ao show, aliado ao baixista Netão Lombada (The Mullet Monster Máfia) e com uma batera demolidora de Jean Novaes.

Músicas como Eviscerar o opressor & Retrocedendo, foram os pontos altos do show. Nas últimas canções, Neri contou que a banda canta em português pra que todos entendam o ódio do que estão escrito nas letras da banda.

Sem tempo pra delongas e ajeitando seus instrumentos, sem roadies ou coisa do tipo, como deve ser. O quinteto do The Chisel que havia já feito shows no Rio de janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e na capital paulista, lá na La Iglesia ao lado do Escalpo e Arize.

E foi na primeira música, que eles logo encantaram a platéia, a forma de tocar simples, mas crua e intensa, e obviamente a performance de Callum "Cal" Graham, que conquistou com a simpatia britânica todos os espectadores. Com seu visual punk e seu sotaque londrino, esbanjava sorrisos e abrindo latas da cerveja "Original", pra quem quisesse ver.

O show do The Chisel, seria um capítulo a parte neste texto, pois o que se viu ali, foi que a chama do punk ainda segue acesa, seja em São Paulo ou Londres, seja Nova York ou Buenos Aires, o punk não deixa de motivar jovens a empunharem seus instrumentos e de bradar sobre injustiças ou de refletir sobre alegrias do cotidiano da classe trabalhadora do qual Cal sempre dizia entre uma faixa e outra.

Das canções da banda, não faltaram faixas como Evil by evil, Fuck 'Em, Vengeance is for me, do já querido What a fucking nightmare.

Mesmo com um set menor, mas não menos contagiante. O The Chisel levantou o astral, e até então teria feito o melhor show da tarde, mas o que viria depois era o Ratos, e aí a coisa complica.

Com mudanças de equipamento do palco pro Ratos de Porão, a entidade do som sujo e rápido no Brasil e no mundo, faria as honras pro The Exploited. João Gordo já antecipava o estado de saúde de Wattie e dizia que ele (João), estava bem de saúde. Escrever sobre o show do Ratos chega a ser redundante, toda vez que os vemos no palco é incrível.

Desde a energia que vêm do palco e que é transmitida de forma direta ao público, que acaba numa sinergia impactante. A euforia predomina, os stage dives começam acontecer de forma ininterrupta, então eram pedradas como Amazônia nunca mais, S.O S País Falido, Alerta antifascista, Juventude perdida.

João Gordo explicou a situação da Crackolândia, na capital paulista, do qual ele teceu a letra de "Exército de Zumbis", e como ele mesmo descreveu um "Deathão" com letra mais cruel que o Cannibal Corpse. Sob gritos de "Sem anistia" recado dado ao ex- presidente desta nação. E a porrada comia solta, os barulhos dos tons de Boka, se espalhavam pelo recinto, e se juntavam com o timbre clínico da guitarra de Jão, e o baixo "voador" de Juninho.

O Ratos de Porão, traz uma presença cativante de fãs de todas as faixas etárias, todos curtindo de forma intensa.Mas sempre existem os chatos de plantão, na sua grande maioria embriagados, que gritam exageradamente, enfiam seus celulares nos rostos de outras pessoas, e querem de toda forma burlar seus espaços pra ficar á frente do palco, tornando por muito tempo, uma situação extremamente desagradável pra pessoas que simplesmente queriam curtir.

Enfim, nada que tirasse o brilho de pedradas como Difícil de entender, Beber até Morrer, Aids Pop e Repressão. O Ratos saiu ovacionado como sempre. E com a certeza de entregarem um dos melhores shows deste nosso Brasil.

A sensação de que algo poderia dar errado nessa despedida era iminente. Porque o estado de saúde de Wattie Buchan, o criador e líder do The Exploited não era das melhores. A turnê seguia com tranquilidade, ela que se compunha de 4 datas justamente com o Ratos de Porão de parceiros de palco. Com Curitiba (PR), dando conta do recado, mas na data em Belo Horizonte (MG), Wattie não conseguiu subir ao palco, e os fãs ficaram preocupados e também por outro lado decepcionados, pois o motivo era ver a lenda ainda viva.

A data seguinte seria no Rio de Janeiro, onde Wattie novamente passou mal e acabou vomitando sangue, em depoimento que o próprio gravou no Circo Voador, no sábado antecessor á apresentação em São Paulo. O que de fato era realidade é que essa despedida poderia não ter a figura onipresente de Wattie, rumores diziam que provavelmente ele não se apresentaria, mas nada era verdade até que chegasse tal momento.

Foi na hora que o The Exploited, subiu ao palco e deixou tudo pronto, que foi exibido um vídeo do próprio Wattie no telão, demonstrando sua saúde debilitada, e foi detectado com pneumonia o que lhe gerou outras complicações no decorrer da turnê e que gostaria sim de fazer o show, mas sua saúde não deixaria. Enfim, o que já sabíamos era que Cal Graham do The Chisel e João Gordo, do Ratos de Porão, assumiriam o vocal em algumas canções e noutras, o trio seguraria sozinho.

Cal dizia que era um grande sonho tocar com o The Exploited e também tocar no Brasil, era algo inimaginável pra ele, quando tocou faixas como Chaos is my life. O trio formado por Irish Rob, Steve Campbell & G Man, tocaram faixas como Fight back, Beat the bastards, Dogs of war.

O que podemos tirar desta situação, é que grande parte do público queria ver sim, a presença de Wattie, mas que pra muitos na platéia, ficaram insatisfeitos com gritos ridículos pra de alguma forma intimidar os músicos, que talvez não entenderiam os xingamentos. Mas 98% da platéia teve totalmente empatia com a situação do vocalista e vibrou da mesma forma. Aplaudindo tanto Cal como João Gordo, e respeitando os integrantes que fizeram possível a apresentação do The Exploited.

A saideira foi com Sex & Violence, com Jão na guitarra e uma galera ensandecida invadindo o palco. Num fim de festa espetacular.