Vapors of Morphine celebra o legado de Mark Sandman
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Texto Matias Carsólio - Fotos Bruna Sizilio
2/24/20254 min read


Uma noite memorável no Cine Joia, um belo baile de verão que me surpreendeu completamente foi o Vapors of Morphine e Wry.
Começando com a banda local, prata da casa sorocabana, o Wry entrou no palco com tudo, misturando sonoridades de suas duas fases, a primeira, mais guitarreira indie shoegaze melódica, com letras em inglês e mais barulhenta, referências de Guided by voices e Placebo latentes, e a segunda com o vocal em português que remete mais a uma sonoridade oitentista, com mais ecos e reverbs, nos remetendo a bandas como Plebe rude e Nenhum de nós.




Tivemos um setlist bem variado para agradar a todos os gostos, e claro, muita muita energia, performance impecável com momentos “noisejam” memoráveis! Destaco a interação do público, que apesar de que ainda não tinha enchido a casa, cantava junto e dançava, mostrando o valor que esta grande banda têm no público paulista.




A casa foi enchendo até ficar um ambiente de nítida ansiedade pra ver o prato principal do baile, o clima foi se formando e até as projeções (impecáveis!) foram mudando dando um ar mais misterioso, evocando o espírito do que veríamos a seguir. Sobem ao palco Dana Colley, Tom Arey e Jeremy Lyons, ao som de gritos e aplausos do público que a esta altura já tinha enchido completamente a casa.
Cabe dizer aqui que esta banda é uma espécie de continuação de uma idéia, uma idéia revolucionária e que em sua época original quebrou muitas barreiras na música mainstream mundial, pois sabemos que quando o Morphine surgiu o que imperava eram as guitarras altíssimas das bandas noventeiras junto a ritmos brutais e lentos, sabbateiros, com vozes e letras rasgadas e automutiladoras, confessionais. O Morphine surge com uma proposta digamos que contrária a tudo isso, uma mistura alucinada de espíritos da música negra americana trazidos a um contexto cru e boêmio, de pessoas que naquele momento, talvez não tivessem voz, e através do Morphine acharam um canto confortável pra ficar um tempo, entre toda a barulheira dos anos 90.






Com isso em mente, podemos entender um pouco da necessidade de continuar essa energia, que apesar de ter sido brutalmente interrompida em 1999, se regenerou e continuou em forma de… vapor! Nada mais justo que o próprio nome da banda ser Vapors of Morphine, porque além de reviverem os clássicos do Morphine tomaram o espírito do Mark Sandman e não só o mantiveram vivo, mas o fizeram evoluir a um novo estágio, passando do líquido ao vapor.
Mas vamos ao show, que foi de arrepiar, com um set list brutal que misturou clássicos do Morphine, com composições dos discos do Vapors e umas jams hipnóticas, o primeiro que destaco é sim o vocal de Jeremy, porque é inacreditavelmente idêntico ao de Mark Sandman, não só o timbre, mas a entonação e humor, essa forma de cantar que parece que estivesse encantando serpentes. Começando com Have a Lucky Day e Good, do disco Good, o público entrou em total sintonia e entregue, o show continuou com músicas dos discos The Night e Cure For Pain, destacando a catarse provocada por I’m Free Now. Logo depois seguiram com uma seguidinha de canções/jams de Vapor os Morphine, que criaram um clima ao mesmo tempo dançante e misterioso.




Voltaram ao Morphine com algumas músicas de Cure for Pain e num momento totalmente épico Dana pega um outro sax, e faz aquilo que 35 anos atras deixou o mundo de queixo caído, tocando dois sax ao mesmo tempo, uau! (continua deixando todo mundo de queixo caído, sim senhor). Destaque pra Sharks, essa música tão intrépida e “punk” que fez todo mundo dançar sem parar.
Quando o show chegou ao fim, lógico que todos e todas pedimos mais e mais, e lógico que tivemos! Cure for pain! claro, a emoção tomou conta de todo mundo numa belíssima estupenda interpretação de Jeremy. Para fechar a noite foi ela, a que levou eles a um novo nível na indústria da música e particularmente a que me levou a conhecer a banda, lá pelos ano dois mil, numa coletânea da revista Bizz, da qual somente lembro de ter essa música, a que me intrigou e me fez voar pra novos ares, Buena.
Sandman, onde quer que tu esteja, saibas que teu legado segue vivo, com muita honra, e continua inspirando noites mágicas de verão, seja em São Paulo ou em qualquer outro canto do planeta.

